DOCE CONTENTAMENTO JÁ PASSASO
Soneto 122
Luís de Camões
Doce contentamento já passado,
em que todo o meu bem já consistia,
quem vos levou de minha companhia
e me deixou de vós tão apartado?
Quem cuidou que se visse neste estado
naquelas breves horas de alegria,
quando minha ventura consentia
que de enganos vivesse meu cuidado?
Fortuna minha foi cruel e dura
aquela, que causou meu perdimento,
com a qual ninguém pode ter cautela.
Nem se engane nenhüa criatura,
que não pode nenhum impedimento
fugir do que ordena sua estrela.