SÃO PAULO — Camelô na infância, radialista, locutor de barca e paraquedista do Exército na juventude. Na vida adulta, uma senhora reviravolta: se torna um bilionário dono de um canal de televisão e de um banco, se candidata à Presidência da República e passa pela tragédia de ser vítima de um sequestro. As histórias que se acumulam na vida de Silvio Santos mais parecem coisa da ficção. Agora, a poucos meses do seu aniversário de 90 anos, em 12 de dezembro, sua trajetória, de fato, invade o território das criações artísticas.
A primeira produção é a comédia musical “Silvio Santos vem aí”, que estreou na sexta no 033 Rooftop, espaço cultural no terraço do Teatro Santander, no shopping JK Iguatemi, em São Paulo. O espetáculo, com o ator Velson D’Souza, que já fez novelas do SBT, no papel principal, fica em cartaz até 17 de maio com sessões às sextas, sábados e domingos — como a capacidade do teatro é menor do que o limite de pessoas estabelecida pelo governo de São Paulo para conter o coronavírus, a temporada por ora está mantida. Até 2021 acabar, está prevista também a chegada de dois filmes, uma série de TV e um livro.
Para o musical, o recorte de tempo vai da infância até os anos 1980, quando o SBT já está consolidado. Ficam de fora, assim, as polêmicas mais recentes de falas machistas durante seus programas e também o período tenso do sequestro da filha Patrícia Abravanel, seguido do seu próprio sequestro, em 2001. O clima é de alegria quase que constante, lembrando a dinâmica dos seus próprios programas.
— É um tributo ao grande comunicador do país. Eu acredito que é uma festa — afirma a diretora Fernanda Chamma, que também assina a coreografia.
Ela divide o comando com Marília Toledo, responsável ainda pelo texto, ao lado de Emílio Boechat. A direção musical fica a cargo de Marco França, que trabalhou por 15 anos com o grupo teatral Clowns de Shakespeare, de Natal.
Já que é uma festa, o espetáculo recepciona a plateia como o canal recebe as caravanas que lotam os auditórios: câmeras cenográficas se deslocam entre o palco e as cadeiras e, em cada assento, há um saquinho com lanche e um pompom para interagir com as cenas. Há também, claro, o aviso das clássicas placas de “aplausos” levantadas pelo assistente de palco Roque, aqui vivido por Roquildes Junior.
Não se trata de uma biografia autorizada, explica Fernanda. Segundo ela, tampouco houve patrocínio do “homem do Baú”. Os recursos da montagem, de R$ 2,5 milhões, vieram via Lei Rouanet por meio de um banco, uma farmacêutica e uma marca de toalhas sem relação com Silvio. Na reta final da preparação, porém, o homenageado aceitou receber Fernanda e Marília durante um programa, em uma espécie de apadrinhamento da ideia. Nos últimos dias, uma sessão especial para ele e sua família foi agendada a pedido do SBT. Com o sinal positivo, outras caras do canal também devem aparecer nas sessões, com pontas no roteiro.
— Como é um tributo para o patrão, todo mundo quer participar. O telefone não para — ri Fernanda, que já tem nomes como Ivo Holanda e Mara Maravilha confirmados na agenda.
Além do musical, a produtora Paris, que estreia no gênero teatral mas já atua desde 1960 no cinema, está aprontando um filme. Segundo Renata Rezende, diretora executiva, o projeto está na fase de preparação de roteiro, ainda sem definição do enfoque, mas deve ser acelerado em breve, para ser rodado ainda em 2020 e estrear no primeiro semestre de 2021. Os testes para definir o protagonista começam em breve.
— Temos o desejo de encontrar um desconhecido para vivê-lo no cinema — adianta.
Mais adiantado está o filme “Silvio Santos —O sequestro”, previsto para dezembro de 2020 nos cinemas, com direção de Mauricio Eça. Rodrigo Faro vive o apresentador na trama centrada no episódio, que também deve inspirar um livro do jornalista Leo Dias.
Já a série de TV, da Fox, deve sair em 2021, com duas temporadas confirmadas. Nem o elenco nem o foco da história foram divulgados por enquanto.