Era um camarada pequenininho, muito observador e sempre com uma resposta engraçada na ponta da língua. Foi pai do poeta, escritor e grande folclorista Aleixo Leite Filho que, juntamente com o poeta Zé de Cazuza, concentram o conhecimento de toda a história da cantoria e dos grandes cantadores da nossa terra.
Seu Aleixinho tinha uma farmácia em Bom Jesus (hoje Tuparetama), e era procurado pelos matutos dali pra prescrever remédios (quase todos homeopáticos) para os mais diversos males. E se o cabra não tivesse o dinheiro na hora, levava mesmo assim o remédio, o que fazia dele um sujeito estimado por todos . Se não fosse preciso o remédio, o doente levava pelo menos um bom conselho.
Na crença do sertanejo, existem alimentos que não podem jamais ser ingeridos juntos. O leite costuma fazer mal, ou até matar, se for ingerido com uma série de alimentos, com batata, por exemplo. Geralmente eram leite e outras comidas mais requintadas que não podiam ser misturadas com nada, o que foi na verdade uma artifício criado pelos senhores de escravos para que eles não consumissem jamais esses alimentos ditos nobres. Batata com feijão, podia; batata com leite, jamais.
Foi o que aconteceu uma vez, quando no balcão de seu Aleixinho chegou uma mulher do sítio com um menino pra lhe fazer uma consulta
– Seu Aleixinho, esse menino tá com catarro e quer comer melancia. Melancia com catarro “ofende” seu Aleixinho ?
– Se ofende ou não, eu não sei. Agora, que é nojento é muito!
Outra vez veio um camarada procurando um determinado remédio:
– Seu Aleixinho, “prá quanto” é esse remédio ?
– É dez mil réis!
– Virge Maria! E porque o mesmo remédio, na farmácia de seu Lourival Nunes, em São José, é quinze mil réis?
– Sabe por que é meu filho?
– Sei não seu Aleixinho!
– É por que Lourival não tem medo de ir pro inferno não. E eu tenho!