Uma das figuras mais conhecidas e queridas do rock nacional morreu ontem no Rio de Janeiro. Sérgio Augusto Bustamante, ou simplesmente Serguei, não resistiu a complicações decorrentes de uma série de problemas de saúde, incluindo pneumonia, anemia e quadros de infecção. Aos 85 anos, ele estava internado no Hospital Regional Doutora Zilda Arns desde 6 de maio. O artista viveu parte da infância nos Estados Unidos e lá desenvolveu o sentimento pela música. Iniciou a carreira em 1966, em terras norte-americanas, seguindo a estética do rock no mundo: cabelos longos, roupas rasgadas e apresentação de clássicos do gênero.
Sua discografia, magérrima como ele, nunca foi sucesso de crítica ou de vendas. Mas a personalidade exuberante e as histórias fizeram dele o astro do rock que ele era. Ficou conhecido, entre outras coisas, por ter ido ao festival de Woodstock, ter um misterioso romance com Janis Joplin, frequentado festas com Jimi Hendrix e Jim Morrison, além de “fazer amor” com árvores.
Após retornar ao Brasil, entre os anos de 1960 e 1980, gravou uma série de compactos, entre os quais As alucinações de Serguei (1966), Eu sou psicodélico/Maria Antonieta sem bolinhos(1968) e Orange (1969). Adotou o apelido Serguei, que ganhou de um amigo que viajou para a Rússia. A partir daí, participou de programas de tevê, como os de cultuados apresentadores, como Flávio Cavalcanti, Chacrinha e Sílvio Santos.
Entre dias de glória e de ostracismo, Serguei chegou a se apresentar duas vezes no Rock in Rio, mas foi somente em 1991 que gravou o primeiro disco completo, Coleção de vícios.
Lado folclórico
Serguei era visto como uma persona, uma figura folclórica. A casa em que morou durante décadas em Saquarema tinha fama quase comparada à do dono. Ele vivia do dinheiro da aposentadoria, de favores dos vizinhos, amigos e admiradores e de uma quantia que ganhava da prefeitura para manter o Templo do Rock, um museu instalado na própria casa com vários itens da coleção do músico que contam a trajetória do rock e da história pessoal de Serguei.
A casa foi reformada pela prefeitura e, lá, Serguei morava e recebia visitantes quando queria e podia. Raramente ele recusava visitas, e eram muitas. No entanto, quando os visitantes iam embora, ele voltava à solidão.
Com a solidão, vieram aproveitadores. “Ele era uma pessoa um pouco difícil de lidar e tinha uma personalidade muito forte”, conta o amigo e músico Diego Brisse. “O Serguei teve o azar de atrair pessoas muito interesseiras. Status, fama, e alguns achavam que ele era rico”, completa.
A Prefeitura de Saquarema informou que o velório do cantor será hoje, das 8h às 11h, na Câmara de Vereadores. Depois, o corpo do artista será sepultado no Cemitério Municipal.
* Estagiários sob supervisão de Igor SilveiraRepercussão
Frejat: “Hoje perdi um amigo querido. Serguei, além de roqueiro brasileiro histórico, era uma figura doce e amiga. Agradeço o privilégio de ter convivido com ele. Que você vá por um caminho de luz,
querido amigo!”
Paulo Ricardo: “Pioneiro e bacharel em rock’n’roll, Serguei viveu intensamente segundo sua desbundante cartilha até o fim. Quem o seguia no Twitter sabe do que estou falando. Me deu a honra de uma canja num inesquecível Motofest em Campo Grande, cantamos Born to be Wild e, no final, ele pulou no meu colo, fanfarrão e carinhoso. Um sábio. Um gentleman. Will be missed. Rest in peace, my dear,
we love you!”
Tico Santa Cruz: “Com muita tristeza que recebi a notícia do falecimento do meu amigo Serguei! Sua memória será preservada por todos aqueles que reconhecem em Serguei uma figura carismática, querida e histórica para a música brasileira e para o Rock Nacional. Estivemos juntos por inúmeras vezes, não só em Saquarema — em sua casa — como por shows que fizemos juntos pelo Brasil. Sempre muito carinhoso, muito divertido e cheio de vida! Só tenho a agradecer pela oportunidade de ter convivido por esses momentos com ele é desejá-lo um bom descanso, ciente de que já vinha lutando há tempos pela vida!!! Valeu por tudo SERGUEI!”
Vá em paz amigo!
Bic Muller: “RIP Serguei! Que sua viagem de volta à sua dimensão seja cheia de amor.”