SERENATA
Vicente de Carvalho
Pela vasta noite indolente
Voga um perfume estranho.
Eu sonho... E aspiro o vago aroma ausente
Do teu cabello castanho.
Pela vasta noite tranquilla
Pairam, longe, as estrellas.
Eu sonho... O teu olhar tambem scintilla
Assim, tão longe como ellas.
Pela vasta noite povoada
De rumores e arquejos
Eu sonho... E’ tua voz, entrecortada
De suspiros e de beijos.
Pela vasta noite sem termo,
Que deserto sombrio!
Eu sonho... Inda é mais triste, inda é mais ermo
O nosso leito vasio.
Pela vasta noite que finda
Sóbe o dia risonho...
E eu cerro os olhos para ver-te ainda,
Ainda e sempre, em meu sonho.