Acordei querendo ser passarinho. Outra vez. Mas não fui capaz. Tentei. Há dois minutos, não mais, pela última vez e soltei-me a cantar. Mas ninguém ouviu. Estavam todos preocupados com a Síria e com Trump. Meu canto era mais desimportante que o ditador coreano ou a malvadeza dos tiranos. Lembrei-me que há dois mil anos quem foi passarinho, de tanto cantar o bem, teve as asas espetadas numa cruz e ali ficou. De nada adiantou ter voado sementes e abençoado colinas. Voei dez mil anos atrás: foi quando descobri-me dinossauro, que não sabia voar. Que não adiantava cantar. Mas vou continuar tentando. Passarinho serei. Não tenho vocação para dinossauro.