O café à mesa soltava ao ar uma fumaça tênue em movimentos não ensaiados, subindo numa dança do ventre orquestrada nos compassos da brisa entrando pela janela semiaberta da cozinha.
Lá fora o tempo estava frio.
Dois biscoitos de canela, deitados sobre um guardanapo de papel, observavam os movimentos da fumaça alinhados ao parsianismo da brisa fria.
Sobre a mesma mesa, sob o pote com açúcar demerara, uma folha de papel retirada da agenda presenteada pelo banco, trazia o nome dele escrito no topo. Um bilhete que a caneta esferográfica azul, repousando destampada e exausta sobre o papel, tentara escrever; mas não encorajara com eficiência a mão trêmula que a segurava havia duas horas.
Lá dentro tudo era silêncio.
Sentado de pernas cruzadas, a coxa direita sobre a coxa esquerda, ele olhava para o infinito pela brecha da janela.
O ritmo do seu coração parecia ditar os ensaios e requebrados da fumaça subindo em câmera lenta.
Nele tudo era tristeza.
Sentada num banco da estação de trens, ela observava a fumaça de uma fábrica se espalhando rápida, volumosa e negra pelo espaço aberto.
Quase nada ali parecia ter vida.
Limpou outra vez as águas dos olhos.
A tampa da caneta, no escuro de uma bolsa de couro preto, chorava a dor da separação.
O próximo trem seria o dela.