RIO - Os patinetes elétricos caíram no gosto dos cariocas, mas nem tudo é diversão quando se trata da novidade, que desembarcou no Rio no fim do ano passado. O uso do equipamento ainda não conta com uma regulamentação da prefeitura, e o vácuo de regras reserva riscos que já são motivo de atendimentos em hospitais. Só o Copa D´Or, em Copacabana, recebeu 30 pacientes no último mês por causa de acidentes com patinetes. No Hospital São Lucas, no mesmo bairro, foram 40 acidentados desde o início do ano, sendo cinco casos de internação com lesões mais complexas, como traumatismos cranianos e fraturas de ossos da face.
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Chefe da Ortopedia do Copa D´Or, Daniel Ramallo diz que os casos mais graves têm a ver com fraturas de mãos, punhos e cotovelos.
— É um fenômeno novo, não tínhamos um quantitativo de trauma por acidente com patinetes. Agora, tornou-se frequente. Recebemos pacientes, jovens e de meia idade, praticamente todo dia — afirma o médico, recomendando: — É fundamental usar equipamentos de segurança para evitar traumas de membro.
Nas ruas, cariocas dizem que o patinete é uma novidade que chegou para ficar. Além de uma forma de lazer, já é adotado como meio de transporte. Mas o veículo elétrico também coleciona reclamações sobre velocidade, ausência de equipamentos de segurança e de horários e locais permitidos. E não há normas oficiais sobre o uso por crianças e adolescentes. Nas estações do Patinete Petrobras, a recomendação é de que os equipamentos não sejam alugados para menores de 18 anos. O mesmo aparece no termo de uso do aplicativo da Grin, que diz nas dicas de segurança fixadas nos veículos que estes devem ser usados apenas por uma pessoa.
No entanto, não é raro ver casais e até pais e filhos pequenos compartilhando um mesmo patinete, até por falta de orientações claras. E há também muita imprudência, como usuários que se aventuram entre carros e ônibus, o que é vetado pelas poucas orientações vigentes.
Os acidentes são mais frequentes em dias ensolarados, fins de semana e feriados. Na semana passada, a universitária Laís Barroso, de 27 anos, caiu minutos depois de dar a partida pela primeira vez. Seria um percurso rápido, entre o Forte de Copacabana e algumas ruas depois.
— Havia um homem no meio da ciclovia e, quando desviei, não consegui parar. Caí violentamente. Tive várias escoriações, fiquei com a perna roxa e tive a pele do dedo da mão arrancada — contou. — Apesar de ser um meio de transporte com facilidade de deslocamento, é um pouco perigoso porque as pessoas ainda não estão adaptadas.
No mês passado, a publicitária Alessandra Assis, de 45 anos, também sem muita prática com o aparelho, deslocou o cotovelo após desviar de dois jovens na orla do Leblon. Ela permanece com o braço imobilizado:
— Não é um brinquedo, e nós não estamos adaptados a esse tipo de transporte: nem quem está pilotando nem quem está de fora.
Regras em estudo
A Secretaria municipal de Fazenda do Rio informou que trabalha na elaboração de um decreto definitivo com a regulamentação do serviço de aluguel de patinetes. A partir da publicação do texto as empresas licenciadas que não cumprirem as regras, incluindo as de segurança, estarão sujeitas a punições. O que vale hoje no Rio é um decreto da prefeitura publicado em 2018 em caráter experimental. Ele diz que a utilização dos patinetes deve respeitar as regras do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que autorizam o veículo somente em áreas de circulação de pedestres (com velocidade máxima de 6km/h) e ciclovias e ciclofaixas (velocidade máxima de 20km/h).
O decreto municipal ressalta que, nas vias para carros, os patinetes só são permitidos se as pistas estiverem fechadas para lazer.
— Temos um vácuo normativo, não há regulamentação federal específica para patinetes. Tratando-se de transporte e de mobilidade, a regra deve ser padrão para todo o país, e as autoridades municipais devem fazer os ajustes de acordo com a topografia e o comportamento da população — destaca Fernando Pedrosa, especialista do Instituto de Tecnologia para o Trânsito Seguro.
Apesar dos perigos, os patinetes elétricos viraram uma febre. A Patinete Petrobras possui 500 veículos, que já fizeram mais de 5,5 mil viagens desde dezembro. Uma hora no equipamento da marca custa R$ 16, enquanto o preço de meia hora no da empresa Grin é R$ 19. No Centro, a novidade virou uma opção para quem não quer ficar engarrafado.
— Vou almoçar no Museu de Arte do Rio (MAR) e escolhi o patinete por ser o meio mais rápido e mais divertido — afirmou a advogada Beatriz Yuan, sobre um patinete da Grin.
Veículos estão sendo usados para roubos
Novo xodó dos cariocas, os patinetes elétricos já despertam a atenção da polícia. Isso porque vítimas de roubo relataram terem sido abordadas por criminosos sobre os veículos. Desde janeiro, pelo menos 12 pessoas foram detidas por roubos na Zona Sul cometidos com o uso do equipamento, cujas facilidades são aproveitadas para escapar rapidamente do local. Um dos casos, em Copacabana, impressionou a Polícia Civil.
Uma mulher pedalava com uma bicicleta “laranjinha”, alugada também por aplicativo, quando quatro criminosos com patinetes a cercaram. Eles roubaram os pertences da vítima e fugiram levando ainda a bicicleta.
— Além daqueles autuados em flagrante por estarem de posse do patinete sem o aplicativo, ainda há alguns criminosos que se valem do equipamento para praticar outros roubos. Eles usam o equipamento como meio de locomoção para agilizar a fuga — revela a titular da 12ªDP (Copacabana), Valéria Aragão.
Juntamente com a 14ª DP (Leblon), a unidade centraliza o registro de flagrantes na Zona Sul. No Leblon, durante o carnaval, um homem foi flagrado por guardas municipais na Rua Humberto de Campos portando um patinete sem o aplicativo necessário para sua liberação. Na Central 1746, o vaivém de patinetes elétricos rendeu 41 reclamações da população à prefeitura desde janeiro.