Foram raras as oportunidades nos últimos anos em que o Brasil conseguiu disputar amistosos contra seleções europeias. Mas uma dessas grandes chances caiu nas mãos de Dorival Júnior, ainda que logo no seu início de ciclo, na reta final de testes antes da Copa América. Ontem, a seleção fez jogo eletrizante e empatou em 3 a 3 com a Espanha no Santiago Bernabéu, em Madri, jogo que testou ao máximo a equipe brasileira.
Em que pese as controvérsias envolvendo os pênaltis marcados para a Espanha, dois dos três numa partida sem a presença de VAR — acordado entre as federações —, a Fúria tirou muito mais o Brasil da zona de conforto do que a Inglaterra fizera no primeiro amistoso, no último sábado.
A pressão sufocante com linhas altas no campo da defesa brasileira mostrou que o meio-campo e a zaga de Dorival precisam, naturalmente, de mais tempo de trabalho para construção de consistência e entrosamento. Mas também que há opções.
Cercado no próprio campo, o Brasil saiu atrás logo no começo, em pênalti cometido por João Gomes e convertido por Rodri. Dani Olmo fez o segundo, driblando Beraldo e Bruno Guimarães para marcar um golaço.
Na mesma base de talento, Rodrygo aproveitou uma entregada do goleiro Unai Simón para diminuir com uma linda finalização de cobertura. O atacante do Real Madrid foi o grande nome do ataque, o único com soluções ofensivas em noite apagada de Raphinha e Vinícius Júnior. A seleção terminou a primeira etapa com apenas duas finalizações.
As opções apareceram bem na segunda etapa. André e Andreas Pereira melhoraram o posicionamento defensivo nos contra-ataques e a saída de bola na segunda etapa, dificuldades significativas na primeira etapa. Praticamente acabaram as tentativas de ligação direta e diminuíram os erros no último passe.
O brilho de Endrick
Quando o Brasil ensaiava uma maior facilidade de sair da pressão espanhola, apareceu a estrela de Endrick. O atacante de 17 anos, que já havia marcado o gol da vitória sobre os ingleses, saiu do banco no intervalo e precisou de apenas cinco minutos para empatar o jogo, com chute de primeira após sobra na área. Foi seu segundo com a camisa da seleção, desta vez no estádio que será sua casa quando deixar o Palmeiras e se juntar o Real Madrid, ainda este ano.
A ascensão do jovem atacante é uma das grandes notícias para Dorival. Se de um lado, ontem, o técnico Luis de La Fuente tinha Lamine Yamal, de apenas 16 anos, infernizando a defesa brasileira com seus dribles, o Brasil tem em casa um prodígio versátil, com capacidade de atuar em mais de uma função — chegou a recuperar bolas e iniciar bons ataques nas duas partidas — e, acima de tudo, decisivo em jogos grandes. Partidas com clima de Copa do Mundo, como estes dois amistosos contra ingleses e espanhóis.
Que o diga o fim de jogo no Bernabéu, decidido em dois pênaltis. Mais um controverso para a Espanha, de Beraldo em Carvajal — convertido novamente por Rodri — e outro nos acréscimos, quando o mesmo Carvajal, deitado, puxou a perna de Galeno com as mãos. Lucas Paquetá bateu e definir o placar.
Há outros bons sinais. Sem Alisson e Ederson, Bento fez grande partida, com intervenções essenciais. Andreas Pereira entrou bem nas duas oportunidades e se qualificou como jogador importante para o grupo. Paquetá, de volta após ausência com Fernando Diniz, agregou qualidade e versatilidade para o meio brasileiro, ainda que tenha ido melhor contra a Inglaterra. Mesmo caso dos zagueiros Beraldo e Fabrício Bruno, que foram mal no primeiro tempo, expostos contra os dribles de Yamal e Nico Williams, mas mostraram qualidades, principalmente em Wembley, para seguir na equipe.
A seleção brasileira retorna em junho, em amistosos contra México (dia 8) e Estados Unidos (12), últimos antes da Copa América.