Beba café e viva mais. É o que diz um estudo publicado na revista da Sociedade Europeia de Cardiologia. Os benefícios para a saúde cardiovascular encontrados pelos autores não se limitam à cafeína: a versão descafeinada também foi associada à redução da incidência e morte por doenças como insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral (AVC). Segundo o estudo, que inclui dados de 449.563 pessoas acompanhadas por 12,5 anos, o consumo moderado da bebida, seja moída ou instantânea, pode ser aliado de um estilo de vida saudável.
Segundo Kistler, há poucas informações sobre o impacto de diferentes preparações de café na saúde geral e, especificamente, do coração. No trabalho, os pesquisadores estudaram a associação entre as variantes da bebida e a incidência de doenças cardiovasculares e mortalidade por todas as causas usando dados do UK Biokank, do Reino Unido, referentes a pessoas de 40 a 69 anos.
No início do estudo, nenhum dos participantes tinha arritmia ou outras enfermidades cardiovasculares. Eles preencheram um questionário perguntando quantas xícaras de café tomavam por dia e se costumavam ingerir a bebida instantânea, moída ou descafeinada. Os cientistas, então, os agruparam em seis categorias de consumo diário: nenhuma, menos de uma, uma, duas a três, quatro a cinco e mais de cinco xícaras. No total, 100.510 (22,4%) da amostra se declarou não bebedora, servindo como grupo de comparação. A variedade instantânea foi a mais citada (44,1%), seguida de moída (18,4%) e descafeinada (15,2%).
Durante o acompanhamento, 6,2% dos participantes morreram. A comparação entre os grupos de consumo mostrou que todos os tipos de café foram associados a uma redução na mortalidade por qualquer causa. A maior diminuição de risco foi observada entre aqueles que ingeriam duas a três xícaras por dia, comparadas às que não incluíam a bebida na rotina. Nesta dosagem, a probabilidade de óbito foi 14%, 27% e 11% menor, para preparações descafeinadas, moídas e instantâneas, respectivamente.
Arritmias foram diagnosticadas em 6,7% dos participantes, sendo que café moído e instantâneo, mas não descafeinado, associaram-se a uma redução do problema, incluindo fibrilação atrial. Em comparação com os não bebedores, os riscos mais baixos foram observados com quatro a cinco xícaras por dia de café moído e duas a três xícaras de solúvel, com 17% e 12% de redução de probabilidade, respectivamente.
"Como o café pode acelerar a frequência cardíaca, algumas pessoas temem que a bebida desencadeie ou piore certos problemas cardiológicos. É daí que pode vir o conselho médico para parar de beber café", acredita Kistler. "Mas nossos dados sugerem que a ingestão diária de café não deve ser desencorajada, mas incluída como parte de uma dieta saudável para pessoas com e sem doenças cardíacas", diz.
Segundo a médica nutróloga Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, já foram descritos cientificamente mais de 20 compostos do café com efeitos na saúde. Ela destaca, porém, que as respostas ao mais famoso deles, a cafeína, podem variar em cada organismo. "Algumas pessoas são sensíveis à cafeína, apresentando problemas de digestão e gástricos, alterações de ritmo cardíaco e pressão arterial, agitação emocional e distúrbios do sono, situações em que o café tradicional deve ser deixado de lado", diz. "Para esses casos, o consumo do café descafeinado é interessante. Ele não faz mal para quem não quer ou não pode ingerir cafeína, e a sua produção de café não retira outros compostos que são essenciais para o sabor e aroma do café normal", explica.
Duane Mellor, nutricionista e professor da Escola de Medicina da Universidade Aston, na Inglaterra, destaca que é preciso considerar que os dados do estudo referem-se ao café puro. "Temos de lembrar que uma simples xícara de café, talvez com um pouco de leite, é muito diferente de um grande café com leite aromatizado com calda e creme adicionado. Portanto, o consumo moderado de café pode estar associado a um menor risco de doença cardíaca, mas é como ele é consumido que é importante."
Evidências fortalecidas
"O café é quimicamente complexo, contém inúmeros componentes bioativos, e os níveis desses diferem dependendo de como ele é feito. O artigo aumenta o corpo de evidências de estudos observacionais que associam o consumo moderado de café à cardioproteção, o que parece promissor. No entanto, com pesquisas observacionais como essa, você não pode ter certeza de qual direção a relação segue. Por exemplo, o café torna as pessoas saudáveis ou as inerentemente mais saudáveis consomem café? Ensaios clínicos randomizados são necessários para entender completamente a relação entre café e saúde antes que recomendações possam ser feitas."