Associada, durante muito tempo, apenas a questões ideológicas, a dieta à base de vegetais tem atraído a atenção de cientistas pelos benefícios que pode trazer à saúde. Agora, uma compilação de artigos dos últimos 40 anos mostra que, entre outras coisas, a alimentação isenta de produtos animais pode desempenhar um papel crucial na redução do risco de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame. O trabalho foi publicado na revista European Heart Journal.
Enquanto metanálises anteriores sobre o tema não consideraram também a influência de questões como região geográfica, idade, índice de massa corporal (IMC) e estado de saúde dos participantes, o atual calibrou todos os fatores que poderiam pesar nos resultados. Além disso, é o primeiro, segundo os autores, a destacar o efeito específico das dietas nas concentrações de apoB.
O estudo descobriu que as dietas à base de vegetais, sejam vegetarianas ou veganas, estão associadas a uma redução de 7% no colesterol total e uma diminuição de 14% de todas as lipoproteínas que bloqueiam as artérias. Assim, há um risco menor de doenças cardiovasculares em pessoas que mantêm o regime alimentar por pelo menos cinco anos.
Esses percentuais equivalem, aproximadamente, a um terço dos efeitos obtidos por medicamentos para controle do colesterol, como as estatinas. Os autores não sugerem que se pare com os remédios; ao contrário, observam que a combinação dessas drogas com um estilo de alimentação vegetariana ou vegana pode produzir benefícios ainda maiores.
A metanálise não pôde avaliar os benefícios potenciais de dietas que incluem peixes versus a onívora devido à falta de artigos do tipo na literatura científica. "No entanto, a dieta mediterrânea é rica em alimentos vegetais e peixes e está bem estabelecida como benéfica nas diretrizes dietéticas", afirma a pesquisadora.
Políticas públicas
Para a autora, o incentivo à adoção de uma dieta livre de produtos animais pode ser uma estratégia acertada de saúde pública. "As populações em todo o mundo estão envelhecendo e, como consequência, o custo do tratamento de doenças relacionadas à idade, como a doença cardiovascular aterosclerótica, está aumentando. As dietas à base de plantas são instrumentos-chave para mudar a produção de alimentos para formas mais ambientalmente sustentáveis, ao mesmo tempo em que reduzem a carga de enfermidades cardiovasculares. Devemos comer uma dieta variada e rica em vegetais, e não muito, e saciar nossa sede com água."
Mais de 18 milhões de pessoas morrem de doenças cardiovasculares a cada ano em todo o mundo, e essa é a principal causa de mortalidade global, segundo a OMS. A Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas afirma que os óbitos prematuros por enfermidades não transmissíveis devem ser reduzidos em um terço até 2030.