SAUDADES DO PORVIR
Sousândrade
Eu vou com a noite
Pálida e fria
Na penedia
Me debruçar:
O promontório
De negro dorso,
Qual nau de corso
Se alonga ao mar.
Dormem as horas,
A flor somente
Respira e sente
Na solidão;
A flor das rochas,
Franzina e leve,
Ao sopro breve
Da viração.
Cantando o nauta
Desdobra as velas
Argênteas, belas
Asas do mar;
Branqueia a proa
Partindo as vagas,
Que n’outras plagas
Se vão quebrar.
Eu ponho os olhos
No firmamento:
Que isolamento,
Oh, minha irmã!
Apenas o astro
Que a luz duvida,
Promete a vida
Para amanhã.
Naquela nuvem
Te vejo morta;
Meu peito corta
Cruel sentir
Da lua o túmulo
Na onda ondula,
E o mar modula
Como um porvir…