SARGENTO VAVÁ E A MARCHA DA GUARDA EM REVISTA
Raimundo Floriano
Sargento Vavá condecorado
Em qualquer país do mundo, nas solenidades presidenciais ou no recebimento de credenciais de embaixadores, é executada uma solene melodia quando a autoridade passa em revista a Guarda de Honra. O Brasil, durante muitos anos, valeu-se da Marcha da Guarda Presidencial, ou Marcha dos Cônsules, composição do Francês J. Furgeot, que nunca foi oficializada. Ouçamos seu áudio:
Marcha da Guarda Presidencial - Marcha dos Cônsules
Nos anos 1980, por determinação de Autoridade do Poder Executivo, a Marcha da Guarda em Revista, composição do Sargento Músico Osvaldo Pinto Barboza, o Sargento Vavá, servindo, à época, no BGP - Batalhão da Guarda Presidencial, foi introduzida de modo informal. Não há documento que, de modo expresso, determine que ela é a peça a ser tocada nas solenidades presidenciais. Ouçamo-la, com áudio e vídeo, na posse do Presidente Jair Bolsonaro:
(Posse de Bolsonaro)
Marcha da Guarda em Revista (áudio)
Neste link, pode-se ver seu arranjo para Banda de Música, gentileza do Sargento Vavá:
Agradecendo a especial deferência de Wagner Palmeira Barboza, filho do Sargento Vavá, apresento-lhes o resumo da rica biografia desse nobre militar, que muito dignificou seu papel em prol do Exército Brasileiro e de nosso amado Brasil.
Nasceu OSVALDO PINTO BARBOZA, na cidade de Mulungu, região do Brejo Paraibano, a 21 de agosto de 1933, do casamento de José Barboza e Amália Ferreira Pinto. Casou-se com Risomar Palmeira Barbosa, donde surgiram dois filhos: Osvaldo Pinto Barboza Junior e Wagner Palmeira Barboza.
Vavá com mulher e filhos
A sua trajetória musical foi marcada pela influência dos maestros João Arthur, José da Justa, Anderson Nunes Sales e, na música erudita, Claudio Santoro, com os quais iniciou seus conhecimentos técnicos musicais que, aliados a seus dons, o transformaram no exímio maestro que foi, no primoroso instrumento de cornetim e lira, no consagrado arranjador e também compositor de variado estilo.
Conhecido no mundo artístico como Maestro Vavá, iniciou sua vida profissional na cidade de Mamanguape (PB), quando o seu interesse foi despertado e canalizado para a música bandística.
Como maestro, esteve sob a sua batuta a Orquestra Tabajara de João Pessoa e posteriormente, transferindo-se para Fortaleza – CE, passou a reger a Orquestra Iracema da Rádio Iracema e a Orquestra da Rádio Cearense, oportunidade em que obteve o título de melhor maestro, no ano de 1958, concedido pela Revista Folha do Rádio, do Ceará.
Orquestra Tabajara, de João Pessoa - Revista Folha do Rádio
A 5 de maio de 1960, em virtude de aprovação em concurso público, foi incluído nas fileiras do Exército Brasileiro, inicialmente no 15º Regimento de Infantaria, sediado em João Pessoa (PB), na graduação de Cabo Músico, e classificado na 6ª Companhia de Guarda, tropa pioneira do verde-oliva na Capital Federal, embrião do BGP e do BPEB, na qual se apresentou pronto para o serviço no dia 17 de maio do mesmo ano.
Fixando residência em Brasília, sua aptidão musical logo o colocou numa posição de destaque, salientando-se dentre os demais, chegando a funcionar, por algumas ocasiões, como regente, no cerimonial do Palácio do Planalto e a tocar na Orquestra da TV Nacional de Brasília. Foi também um inovador, fundando a Orquestra de Jazz, no Batalhão da Guarda Presidencial, hoje extinta.
Dedicando-se exclusivamente à música, ocupa um lugar relevante no cenário musical do Brasil, não só como maestro de Banda de Música, mas especialmente, como perito arranjador para grupos Vocais, Orquestras e Bandas de Música. Como tal, participou do 1º Festival Brasileiro de Música Evangélica (FEBRANE) na cidade de Brasília em 1975, do Festival de Música do Colégio Objetivo, em 1983 e de quatro Long Plays, patrocinados pela Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil (FENAB), no período de 1981 a 1983. O trabalho de gravação foi realizado na cidade de São Paulo. Fez arranjo para banda do Hino Centenário da Abolição da Escravatura, música de Domingos de Azevedo Ribeiro.
Em sua carreira militar, chegou a 1º Sargento Músico, no Batalhão da Guarda Presidencial, em Brasília, onde serviu no período de 1960 a 1983, ano em que se reformou. Integrou a Banda de Rio Tinto e da cidade de Sapé, ambas na Paraíba.
Existiu, nesta personalidade musical, o lado do compositor que, com versátil criatividade, atinge a todos os gostos musicais, sendo suas músicas classificadas por várias vezes no Concurso de Frevança na cidade de Recife – PE.
Maestro Vavá prestou sua valorosa colaboração ao Centro de Documentação e Pesquisa Musical José Siqueira e é autor da música do Hino Oficial deste Núcleo Musical. É membro da Academia Paraibana de Música, onde ocupa a Cadeira de nº 12, que tem como Patrono José Rodrigues Correia Lima, este autor de numerosas composições eruditas, sacras e bandísticas.
Entre suas produções os frevos: Frevo do Neneco, Riso no Frevo e Mata o Véio. As valsas: Lágrima de Mazinha e Quando Sofre Um Coração (1ª composição aos 14 anos de idade) e as criações que lhe caracterizam mais fortemente, os dobrados. Entre eles o General Ademar da Costa Machado, Cel. Negrão, Cel. Dinamar, Canção da 6ª Companhia de Comunicação e Canção do 3º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada, aprovadas pelo Centro de Documentação do Exército.
No dia 13 de setembro de 2019, o Maestro Vavá se encantou, aos 86 anos de idade, deixando esposa, dois filhos e quatro netos.
Em seu tempo de atividade na caserna, cultivou especial amizade com o hoje Capitão Músico Luiz Pereira Lima, hoje reformado.
Lima, Vavá e Comandante do BGP
Durante sua merecida inatividade funcional, Vavá não parou de produzir, compondo e gravando, num teclado, sem grandes recursos tecnológicos, suas criações e de outros compositores nacionais, resultando disso 24 CDs, num total de 264 peças, cujas cópias enviou para seu amigo Lima, fiel depositário desse precioso acervo musical.
Numa gentileza do Capitão Lima, que me disponibilizou todo esse cabedal fonográfico, escolhi 10 títulos como pequena amostra do talento criativo do Maestro Vavá, meu amigo desde o início do ano de 1961, quando nos conhecemos aqui em Brasília:
1 - Adagio - Minueto
2 - Divagando - Samba-canção
3 - Dois Boleros - Bolero
4 - Maranguape - Foxe
5 - Meu Trompete - Marcha-rancho
6 - Minha Valsa - Valsa
7 - Rachid - Canção
8 - Riso no Frevo - Frevo de rua
9 - Saudade do BGP - Dobrado
10 - Um Chorinho Para Yann - Choro