Raimundo Floriano
Nonato? Essa é a pergunta recorrente, toda vez que sou apresentado a alguém e digo meu primeiro nome. Aí, eu explico que sou Floriano, assim registrado por Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, devido a ter ele nascido na cidade piauiense do mesmo nome. Que Nonato, geralmente, indica o detentor provindo de gravidez difícil ou parto complicado.
Pelo exposto, e atendendo pedidos de vários leitores homônimos, resolvi escrever esta sucinta biografia desse poderoso Santo, nosso xará, festejado no Brasil de 22 a 31 de agosto.
Raimundo Nonato veio ao mundo na cidade espanhola de Portella, diocese de Urgel, Catalunha, no ano de 1204, e faleceu em Cardona, Espanha, a 31 de agosto de 1240.
O nome Nonato, do latim non natu – não nascido – foi-lhe dado por sua extração do ventre de sua mãe, depois que ela já se encontrava morta. Difere-se do parto cesáreo, do latim sectio – cortar –, pois este é feito mediante retirada do feto por incisão no abdome de mãe ainda viva. Raimundo Nonato foi arrancado pela parteira e escapou, utilizando-se ela de navalha ou faca, o que lhe ocasionou pequenas marcas de cortes nas costas. Em decorrência, o nome Nonato, na mais das vezes, repito, indica alguém nascido de gravidez difícil ou parto complicado.
Pertencente a família nobre e abastada, Raimundo foi bem-criado e educado, planejando-lhe seu pai brilhante carreira na Corte de Aragon. Quando se inclinou para a vida religiosa, seu pai, para dissuadi-lo desse intento, ordenou-lhe que cuidasse de uma das fazendas da família. Entretanto, ele passava seu tempo com os pastores e os trabalhadores, estudando e orando, até que seu pai desistiu de vê-lo entre os nobres da Corte.
Conta-se que, ainda menino, mesmo pastoreando o gado, visitava constantemente uma ermida onde se venerava a imagem de Nossa Senhora, de quem era fervoroso devoto, e que, durante as horas que passava aos pés de Maria, um anjo lhe guardava o rebanho.
Raimundo Nonato tornou-se Padre Mercedário – da Ordem das Mercês, instituída para a redenção de escravos cristãos nas mãos dos mouros –, recebendo seu hábito de São Pedro Nolasco, o fundador da Ordem, da qual passou a ser o Mestre Geral, dedicando seu tempo a resgatar referidos escravos sob o jugo dos muçulmanos, que dominavam parte da Espanha na época, utilizando-se, para isso, do dinheiro que possuía.
Aliás, ele se notabilizou pela luta contra a escravatura que, em sua época, Século XIII, era considerada, por muitos, prática bem natural.
Certa vez, conseguiu liderar uma missão que libertou 150 cristãos. Porém, quando, na Argélia, se acabaram seus recursos financeiros para o salvamento daqueles que corriam o risco de perderem a vida e a fé, entregou-se no lugar de um dos cativos. No cárcere, pregava para os cristãos e muçulmanos, chegando a convertê-los, o que lhe acarretou severos sofrimentos, pois seus algozes, para fazê-lo calar-se, chegaram ao extremo de perfurar seus lábios com ferro em brasa, fechando-os com cadeado.
Condenado à morte pela fome, a sentença foi convertida em pena de prisão perpétua, mediante paga de vultosa soma em dinheiro por sua família. Mais tarde, libertado, retornou à Espanha, sendo elevado a Cardeal pelo Papa Gregório IX. Mesmo investido nesse alto grau da hierarquia religiosa, continuou vivendo como um simples monge mercedário.
Veio a falecer em Cardona quando, gravemente enfermo, seguia para Roma, em atendimento a chamado do Papa, que o queria como Cardeal Conselheiro, sendo enterrado na Capela de São Nicholas, perto da fazenda da família, a qual ele deveria ter cuidado quando jovem. Seu túmulo logo se tornou local de peregrinação, e vários milagres são creditados a sua intercessão.
Raimundo Nonato foi canonizado pelo Papa Alexandre VII, em 1657. É o Patrono das parteiras e do bom parto.
Em todo o Brasil, São Raimundo Nonato é cultuado com devoção, notadamente nas cidades e paróquias das quais ele é o Padroeiro. O Festejo, com Missa e Quermesse todas as noites, tem sua apoteose a 31 de agosto, data em que é realizada a Alvorada Festiva e a Procissão, celebrada a Santa Missa, e encerrada a Quermesse. Em todas as solenidades religiosas, é rezado o Terço e entoado o Hino, de domínio público, cuja letra aqui reproduzo:
Lá no céu onde reinas ditoso
São Raimundo nos vem socorrer
Para um dia chegarmos ao gozo
De ao teu lado, felizes, viver
REFRÃO:
Nos combates renhidos da vida
Nós rogamos enfim tua luz
Que alcancemos a Pátria querida
Face a face vejamos Jesus
Tu seguiste a estrada espinhosa
Do sofrer por Jesus e lutar
Ao trabalho a oração fervorosa
Tu soubeste na vida aliar
Sempre a fé, destemido, pregaste
Mil cristãos com valor redimiste
E cativo entre os mouros ficaste
E o martírio mil vezes pediste
Os teus lábios trazias cerrados
À doutrina do mundo tão louco
Em Jesus tão somente abrasados
Pois seu nome levavas na boca
De Maria a Virgem mais pura
Foste servo fiel fervoroso
Também muito sofreste na agrura
De oito meses de exílio penoso.
Para vocês aprenderem e cantarem, aqui vai a melodia, interpretada pelo Coral da Paróquia de São Raimundo Nonato de Belém do Pará: