25 de janeiro de 2020 | 03h00
É em São Paulo que estão as maiores comunidades de italianos, japoneses e portugueses fora de seus países. A cidade é o que é hoje, em boa medida, pela contribuição riquíssima dada por esses imigrantes. A convivência pacífica e contributiva estabelecida entre paulistanos de nascença e de afeto transmite ao mundo um luminoso sinal de união e acolhimento no momento em que variadas nações têm de lidar com o recrudescimento dos episódios de intolerância e xenofobia.
Fora os estrangeiros, para São Paulo também afluem centenas de milhares de brasileiros vindos de outros Estados em busca de melhor qualidade de vida. Não raro a encontram, a despeito dos problemas que, como toda megalópole, aqui também podem ser observados, como as deficiências no transporte público, a violência urbana, entre outros. Mas ao sopesar os prós e os contras, o saldo ainda é muito positivo para a cidade de São Paulo.
Um relatório elaborado no final do ano passado pela ONG Rede Nossa São Paulo expôs essas fraturas. Um de seus principais achados foi a relação estabelecida entre a desigualdade econômica e a desigualdade racial. Os distritos mais pobres da capital paulista concentram o maior porcentual da população de pretos e pardos. A maior taxa de emprego formal por dez habitantes participantes da População em Idade Ativa (PIA) que consta do Mapa da Desigualdade é a do distrito da Barra Funda (59,24%). Já o porcentual de pretos e pardos moradores do distrito da zona oeste é de apenas 15,71%. Em Jardim Ângela, distrito da zona sul, 60,11% dos moradores são pretos ou pardos e apenas 0,5% deles têm empregos formais (ver editorial Várias cidades em uma só, publicado em 13/11/2019).
Há pouco a ONG Rede Nossa São Paulo divulgou nova pesquisa Viver em São Paulo, que anualmente mede a qualidade de vida e a percepção de bem-estar dos paulistanos. Não houve mudança significativa no grau de satisfação dos paulistanos com a cidade. Em 2019, a nota, que vai de 0 a 10, ficou em 6,5 (em 2018 foi 6,3). É digno de registro, no entanto, o aumento de 5 pontos porcentuais – de 15% em 2018 para 20% no ano passado – do número de paulistanos que atribuíram notas 9 e 10 para a experiência de viver em São Paulo. Destes, 31% pertencem às classes D e E, um indicativo de que políticas públicas voltadas para os segmentos mais carentes da população têm sido bem percebidas por uma parcela significativa deles.
A pesquisa também mostrou que a esmagadora maioria dos paulistanos (79%) continua se orgulhando de sua cidade. Mas o número caiu 6% em relação ao sentimento apurado há dez anos (85%). Capturar as razões que levaram a essa queda e buscar caminhos para reverter essa curva é mais um dos grandes desafios que pairam sobre a mesa dos que se põem a serviço da administração da maior e mais complexa cidade brasileira.
São Paulo é um exemplo para o Brasil. É um farol a indicar nosso melhor destino, e também é o livro do tombo de nossas mais renitentes mazelas.
A cidade de São Paulo completa hoje 466 anos de fundação profundamente marcada pelos efeitos de seu gigantismo. No planalto seguro, de terra fértil e águas abundantes, que fora encontrado pelos jesuítas que subiram a Serra do Mar à procura do lugar ideal para estabelecer o colégio que serviria de núcleo do processo de evangelização dos índios na metade do século 16, cresceu a 10.ª cidade mais populosa do planeta, com 12,2 milhões de habitantes, milhares deles oriundos de mais de 150 países.