Casa de Ferro, Várzea, Recife
Em 1882, encontravam-se em atividade na Várzea do Capibaribe os engenhos: Borralho, Brum, Cova de Onça, Cumbe, Curado, do Meio, Poeta, São Francisco, Santo Inácio, Santo Amarinho, Santos Cosme e Damião e São João, os dois últimos de propriedade de Manuel Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque.
No início da década de 1890, os dois engenhos São João e o Santos Cosme e Damião foram comprados por Francisco do Rego Barros de Lacerda, então proprietário do engenho São Francisco da Várzea, que pretendia reunir as terras dos três engenhos para fundar uma usina de açúcar.
O novo proprietário nascera no engenho Trapiche, na freguesia do Cabo, em 2 de agosto de 1831, falecendo à meia noite do dia 24 de janeiro de 1899, em São João da Várzea. Foram seus pais o Barão e a Baronesa de Ipojuca João do Rego Barros e Inácia Militana Cavalcanti Lacerda.
Era ele sobrinho de Francisco do Rego Barros (1802-1870), Barão e depois Conde da Boa Vista, presidente da Província de Pernambuco entre 1837 a 1844.
Graças a esses laços de parentesco, Francisco do Rego Barros de Lacerda não escapou do destino político que sua família havia reservado para si: Em 1882, elege-se deputado geral do Império, para a legislação de 1882-1885. Em 1886, é eleito para a Câmara de Vereadores do Recife, continuando como vereador da capital de Pernambuco, após a proclamação da República, em 1889. Dois anos depois, em 1891, deixa a câmara municipal, para concorrer a uma vaga no Senado Estadual de Pernambuco, em 1892.
Sempre atento às novidades tecnológicas do seu tempo e inovações ligadas ao processo de plantio da cana e produção do açúcar, optou ele, em meados de 1893, por empreender viagem a fim de conhecer as novas unidades fabris utilizadas na produção açucareira nas zonas produtoras do sul dos Estados Unidos.
Para facilitar a comunicação entre seus engenhos, importou dos Estados Unidos uma ponte de ferro, com 160 m. de extensão, dividida em quatro vãos, que veio ser instalada sobre o leito rio Capibaribe, por seu filho Francisco do Rego Barros de Lacerda.
Com a chegada dos demais equipamentos, adquiridos no estado norte-americano da Luisiana, a nova usina veio ser inaugurada em 1894 em terras do antigo engenho São João, moendo canas dos três engenhos de sua propriedade, com a produção inicial de 4.200 sacos de açúcar.
O Sobrado de Ferro
Em sua viagem ao estado da Luisiana, o proprietário da Usina São João, despertou sua atenção para um estilo de casa de vivenda com estrutura em ferro e paredes de alvenaria em voga em Nova Orleans.
Encantado com o projeto, encomendou uma casa semelhante a fim de erguê-la nas terras do Engenho São João.
Com sua planta baixa lembrando a letra U, que se fecha com uma elegante escada de ferro em dois lances, na parte posterior, a casa tem sua estrutura pré-fabricada, tendo sido importada através do porto do Recife. Todas as fachadas, internas e externas, “possuem varandas suportadas por colunas de ferro fundido e peitoris igualmente fabricados em ferro. Toda a estrutura dos assoalhos e da coberta é em ferro. Somente as paredes são de alvenaria de tijolos e o recobrimento da casa em telhas de barro, tipo Marselha”. (¹)
O Sobrado de Ferro da Várzea possui em seu primeiro pavimento as dimensões de 34,2 m de comprimento por 26,4 m. de largura, compondo uma área de 902,88 m2. No andar térreo, numa área adicional de 224.10 m2, foram distribuídos a cozinha, copa, lavanderia, sanitários e outras acomodações. Considerando toda a construção, incluindo os terraços cobertos, a área total da casa é de 1.420,20 m2, sustentada por 69 colunas de ferro fundido.
O velho patriarca acompanhou toda a construção da sua nova residência, porém nunca chegou a nela residir, vindo a falecer pouco depois da conclusão das obras, em 24 de janeiro de 1899.
Maria da Conceição
Francisco do Rego Barros de Lacerda casara-se em 1853 com Mariana de Sá Barreto, desta união nasceram dois filhos e uma filha: João, Francisco e Maria da Conceição do Rego Barros de Lacerda.
O filho João (João Menino), casou com Filipa Barros Barreto, gerando tão somente uma filha falecida ainda criança.
O segundo filho do casal, Francisco do Rego Barros de Lacerda (Chico Velho), possuía o mesmo nome do patriarca e era formado em engenharia. Fora ele o responsável pela montagem da ponte de ferro sobre o rio Capibaribe, juntamente com a maquinaria da nova usina de açúcar e o Sobrado de Ferro, tendo falecido sem deixar descendência.
Restou da diminuta prole sua filha Maria da Conceição do Rego Barros de Lacerda (Cecé), que, nascida em 5 de agosto de 1863 e falecida em 9 de julho de 1942, continuou solteira, sucedendo aos irmãos como herdeira universal de todos os bens da família.
Em 1914 a Usina São João dispunha de 11 km de estrada de ferro e sete tanques para álcool. Em 1912, sua produção foi de 11.663 em sacas de 60 quilos de açúcar. No final da década, 1918, atingiu o patamar de 34.350 sacas. Em 1921, já acusava em seus relatórios uma capacidade de esmagamento diário de 200 toneladas de cana, ocupando o 9º lugar no parque industrial açucareiro do Estado; registrando, atingindo, em 1933, a produção de 37.853 sacas de açúcar.
Na década de 1930, dois novos engenhos foram adquiridos pela Usina São João: O Santo Amarinho, com 330 hectares, localizado no atual município de Jaboatão dos Guararapes, e o engenho Mamucaia, com 504 hectares, em São Lourenço da Mata.
Em fins daquela década, a Usina São João possuía um total de 2.644 hectares de terras produtoras de cana-de-açúcar para alimentar suas moendas, sendo 280 hectares do engenho São João; 550 hectares do Santos Cosme e Damião; 980 hectares do São Francisco, além dos dois acima citados.
No ano de 1934, encontrava-se a usina sob a administração de Ricardo Lacerda de Almeida Brennand, a quem D. Maria da Conceição do Rego Barros Lacerda, conhecida entre os familiares pelo apelido de Cecé, transformara, por perfilhamento, em seu herdeiro universal.
Assim, Maria da Conceição do Rego Barros de Lacerda, Cecé, com tal iniciativa, veio a se tornar a principal responsável pelo patrimônio econômico de toda Família Brennand, transformando-se numa espécie de “matriarca” de todos.
A Usina São João da Várzea continuou em atividade até o ano de 1943, quando veio encerrar sua produção de açúcar e álcool. Suas máquinas foram vendidas para a Usina Trapiche, então, propriedade da empresa Mendes Lima.
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(¹) ANONYME / Cie. CENTRALE DE CONSTRUCTION / EAINE ST. PIERRE BELGIQUE / ADMINISTRATEUR DIRECTEUR LEON HIARD.” “Esse indício, da origem belga dos componentes da arquitetura metálica da casa, contradiz a primeira informação. A não ser que se considere a hipótese do edifício ter sido montado originalmente nos Estados Unidos da América do Norte e de lá ter sido reexportado para o Brasil”. – GOMES-DA-SILVA, Geraldo. Arquitetura de ferro no Brasil. São Paulo: Nobel, 1986. P. 218-222.
Informa o professor Geraldo Gomes da Silva, que a residência em questão “teria vindo de fato dos Estados Unidos, de onde chegara nos fins do século XIX. Essa informação não foi ainda comprovada mas, foi possível descobrir, numa das colunas de ferro fundido do pórtico de entrada, a inscrição: SOCIETÉ
Essa informação de que dona Conceição faleceu em 1942 não procede, ela faleceu em 1947, e não em 1942 como o seu artigo o informa.
Quem faleceu em 1942 foi a mãe de Ricardo Lacerda de Almeida Brennand. Dona Francisca de Paula. Sobre a ponte De ferro de quatro pavimento que veio do estados unidos junto com a casa e que é histórica e que resta apenas uma parte dela sobre o rio Capibaribe hoje, estranha não existir nenhuma foto sobre a mesma quando era completa sobre o rio quando os funcionários passavam sobre ela e os caminhões Ian na cerâmica pegar os tijolos e telhas para entregar. E que em 1975 a cheia veio e levou-a fora para o fundo do rio só estando o que tem lá , e nenhuma foto que com certeza os Brennand tem mais não liberam para vermos os mais novos, como era esse exemplar da armação de ferro do século 19. Se você tiver essas fotos da ponte antes de cair envie para os amantes da história.
Luiz, gostaria de saber se você poderia entrar em contato comigo, pois gostaria de saber mais sobre o que você sabe sobre a família Brennand. Sou estudante de historia da UFPE E-mail para contato: lego.400@hotmail.com
E Francisco do rego Barros Lacerda tinha 4 filhos, dois meninos e duas meninas. Ficando dos filhos até a velhice dona Conceição "Cece" falecida em 1947.
Adoro história estou lendo atualmente sobre a história do engenho São João. Esse interesse veio devido u m casal de amigos que reside em terras do antigo engenho São João. Conversamos sobre o engenho, que uma extraordinária historia