FESTA DE SÃO JOÃO – Anilda Figueiredo
Quanta saudade eu sinto
do São João de antigamente
que a gente brincava muito
e dançava bem contente
era tudo engraçado
com um matutinho de lado,
era tudo diferente.
O São João de antigamente
tinha q-suco e aluá,
canjica, pamonha, paçoca,
chapéu-de-couro e fubá
pé-de-muleque e sequilho,
bolo de puba e de milho,
arroz doce e mungunzá.
E pra gente se alegrar
uma caninha brejeira,
a famosinha fubuia,
velha cana brigadeira,
uns bebiam caipirinha
esperta, porém docinha,
na derruba era ligeira.
Com a faca na bananeira
no outro dia sabia
com quem ia se casar
a gente se divertia
todo mundo se alegrava
um dançava, outro dançava
até amanhecer o dia.
Improvisava a quadria
e saía de par em par
viva a noiva! viva o noivo!
a festa vai começar!
chamava um bom sanfoneiro
e nós no mei do terreiro
dançava até se cansar.
Cuidado pra não errar
preste atenção, minha gente!
camim da roça, olha a chuva…
hoje é tudo diferente…
faria tudo de novo
pra ver, outra vez, meu povo
no São João de antigamente.
* * *
MEU VESTIDO DE SÃO JOÃO – Dalinha Catunda
Foi mexendo em meus guardados
E fazendo arrumação
Que encontrei embrulhado
Meu vestido de São João
Um vestidinho singelo.
Mas eu considero belo
E logo voltei ao sertão.
Eu sinto tanta saudade,
Das velhas festas juninas
Onde eu era bem feliz
Junto com outras meninas
Ensaiando nossas danças
Organizando as festanças
Tipicamente nordestinas.
Vestia-me de matuta,
Com meu vestido de chita
Nos cabelos duas tranças
Nas tranças laço de fita.
De palha era meu chapéu
E eu me sentia no céu,
Não conhecia desdita.
O fogo unia famílias
Fogueira era tradição
O casamento matuto
Não faltava no São João
E o bom forró que rolava
Quando a gente rebolava
Era do rei do baião.
Hoje tudo esta mudado
Veio a modernização,
Acabando com os costumes
Do nosso agreste sertão.
Acabando com a folia,
E com a nossa alegria
Enterrando a tradição.
* * *
SÃO JOÃO NA ROÇA – Luiz Gonzaga
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SÃO JOÃO SÓ PRESTA NA ROÇA – Zé Bezerra
Festa tradicional
De maior empolgação
É a festa de São João
Feita na zona rural
Se reúne o pessoal
Ali ninguém se alvoroça
Todos dizem: – A festa é nossa
E a alegria é completa
Por isso, afirma o poeta
São João só presta na roça.
É um São João diferente
Dos que fazem na cidade
Tem brincadeira à vontade
Alegrando a toda gente
O sertanejo contente
Logo depois que almoça
Corta lenha fina e grossa
Bem animado e feliz
Acende a fogueira e diz
São João só presta na roça.
No santo o povo tem fé
Festejando a noite inteira
Em toda casa há fogueira
Foguetão e buscapé
Mais tarde há arrasta-pé
No pavilhão da palhoça
Sanfoneiro da mão grossa
Toca um repertório novo
Para a alegria do povo
São João só presta na roça.
Na noite, a cada minuto
A lua no alto brilha
Logo antes da quadrilha
Tem casamento matuto
O noivo se faz de bruto
A noiva se alvoroça
De cima duma carroça
A mãe da noiva gasguita
Estufando o peito grita
São João só presta na roça.
A moça faz simpatia
Para saber com quem casa
Tem milho assado na brasa
Tem canjica quente e fria
Milho cozido em bacia
Pamonha na palha grossa
Se chover, a água empoça
Mas não para o forrozão
Para o povo do sertão
São João só presta na roça.
A festança é animada
Sem ritmo modernizado
Sem guitarra, sem teclado
Sem quadrilha estilizada
É mantida, é conservada
A pura cultura nossa
Pra que o sertanejo possa
Se orgulhar de sua festa
Em outro canto não presta
São João só presta na roça.