SALVADOR — Irmã Dulce receberá neste domingo em Salvador a primeira celebração no Brasil após se tornar Santa Dulce dos Pobres . Com saúde frágil, ela se projetou pela capacidade de mobilizar centenas de forças, vindas de populares e figuras públicas, para ajudar quem precisava. A expectativa deste domingo é a reunião, na Arena Fonte Nova , de milhares de pessoas que reconhecem não apenas sua santidade, mas também foram atraídas pela e para a sua ação comunitária.
Para a família, a coincidência explicava a conexão das duas. Eles passaram a visitar insistentemente o local em que a freira atendia até conseguir realizar o desejo da menina de conhecer pessoalmente a hoje Santa Dulce dos Pobres. Os encontros fizeram com que, já adulta e após o falecimento de Dulce, Sheila dedicasse 19 anos ao trabalho voluntário nas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID).
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A história se repetiu. Quando tinha 5 anos, o filho de Sheila, Gabriel, se encantou pelo trabalho voluntário da mãe. Acostumado com os mantimentos que ela recolhia para doações dentro de casa e com as breves visitas ao hospital para buscá-la, com o pai, após alguma atividade do voluntariado, Gabriel decidiu ajudar as obras, primeiro com 1/3 da mesada de R$30 que recebia, depois criou sua própria campanha de arrecadação.
— Minha mãe me explicou que estavam construindo o setor de hemodiálise, que eu chamava de Hospital do Rim, e eu quis fazer uma campanha de R$ 100, achava que era um dinheirão e que daria para construir tudo — lembra Gabriel, hoje com 12 anos.
Mais profissionalização
Já na primeira campanha, o garoto mais que dobrou a meta, passou a mandar e-mails pedindo doações e mobilizar pessoas pelas redes sociais, escreveu um livro com arrecadação revertida para as OSID e inspirou a criação do grupo de voluntários mirins, atualmente com 60 crianças (e uma lista de espera), que faz atividades pontuais, especialmente nas férias escolares.
A história de Sheila e Gabriel é uma das muitas que se cruzam com a das OSID, que mantêm um dos maiores complexos hospitalares e de assistência social da Bahia. Atualmente, 300 voluntários atuam na sede e são gerenciados diretamente pela OSID, os chamados Anjos de Irmã Dulce. Essa rede se multiplica com grupos independentes.
As obras foram erguidas com o voluntariado, mas o perfil dessa atividade mudou ao longo dos anos, especialmente com a profissionalização da equipe. Os mais de três mil funcionários realizam, em média, mais de dois milhões de atendimento ambulatoriais, 12 mil cirurgias e 18 mil internamentos por ano, só em Salvador , pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São os voluntários que fazem com que esse não seja mais um complexo hospitalar. É o que explica Salma Araújo, coordenadora do Anjos:
— Hoje eles atuam nas atividades de apoio social, administrativo e até mesmo religioso. O voluntário é a garantia do serviço humanizado, no acolhimento, e é a pessoa que está ali para perpetuar a mensagem de Irmã Dulce, que é amar e servir. Tem gente de todas as religiões, além da chegada de um público mais jovem, diferente de quem espera se aposentar para ser voluntário. As escolas e empresas incentivam, mas acredito que a canonização também tem contribuído muito com o crescimento da procura.
Atualmente, há uma lista de espera com mais de 800 pessoas inscritas através do site da instituição para atuar como Anjos de Dulce. Salma explica a necessidade de triagem, com identificação das necessidades e habilidades, além de treinamento e adequação de uma jornada, que é flexível e de em média duas horas.
Oferta quadruplicou
Onde não há espera é na busca por doadores. Fundado há dois anos, o grupo Amigas de Dulce faz atividades, como promoção de eventos, e trabalha na captação de doadores mensais às obras.
— No grupo temos domésticas, baianas de acarajé, donas de casa, médicas, empresárias advogadas... É um grupo diverso, como sempre Irmã Dulce esteve rodeada por muitas amigas a ajudando. Estamos todas unidas pela fé que vibramos por Santa Dulce dos Pobres — detalha Rosemma Maluf, organizadora do grupo.
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A empresária Alana Alves, 41 anos, é uma das Amigas e responsável pelo grupo de captação de sócios. Desde o anúncio de canonização, em maio, ela sente o crescimento do número de novos filiados, saltando de uma média de 70 por mês para quase 300. Com isso, o trabalho mudou da busca ativa para o atendimento de quem quer ajudar.
Cada um contribui com o que tem de melhor. A cantora Margareth Menezes , 57, por exemplo, empresta sua voz — inclusive na celebração deste domingo, em Salvador — e sua imagem para divulgar as Obras. Ela, que pessoalmente desenvolve ações sociais na região da Cidade Baixa, em Salvador, onde também atuou e está o complexo de saúde de Irmã Dulce, é considerada uma das embaixadoras das OSID.
— É a melhor maneira de retribuir o amor e o carinho que recebo das pessoas e tudo que tenho conquistado com meu trabalho. Pelo contingente de pessoas atendidas [pelas obras] dá para dimensionar como é importante a colaboração de todos — diz Margareth