Laerte A. Ferraz
Acredito que nenhum eleitor de Bolsonaro ficou feliz com a saída de Moro do Ministério da Justiça. Para mim está sendo razão de tristeza e de decepção. Estou triste porque Moro vinha fazendo um indiscutível bom trabalho na pasta. E fiquei decepcionado pela forma que ele escolheu para comunicar sua renúncia ao cargo para a população, especialmente aos eleitores de Bolsonaro.
Imagino que essa forma deselegante e bem pouco ética de notificação tenha sido uma espécie de prospecção de eleitores para uma possível candidatura em 2022, lançada na manhã deste dia 24 de Abril de 2019. Se não foi isso, foi uma demonstração cabal de um ego de insuspeitadas proporções. Lastimável.
Na minha forma de ver, apesar do respeito que tenho pela carreira e trabalho como Juiz e Ministro, o gigante Moro se apequenou, pois com seu discurso eivado de ressentimentos – reais ou não, não temos como saber – ele deu amplo estoque de munição para os verdadeiros inimigos do Brasil, nessa guerra suja e golpista que travam nas coxias do Congresso e dos gabinetes de togados. Com um único discurso, Moro desfez o enorme trabalho realizado no combate a corrupção, pois com ele abriu novas portas de acesso dos corruptos ao poder, facilitando a esses a consumação dos objetivos de derrubar o atual governo e trazer de volta tudo aquilo que tanto lutamos para mudar. Sim, fiquei decepcionado. Muito decepcionado.
Não quero entrar no mérito das razões dele para agir dessa forma, não tenho como avaliar o desgaste que sofreu a relação dele com o Presidente. Tudo parece indicar que o ato administrativo presidencial de exonerar o Diretor Geral da Polícia Federal, após este haver expressamente declarado que desde há muito estava cansado e desejoso de deixar a função, foi apenas o final de um drama que se desenrolava nos bastidores do primeiro escalão governamental. Deve ter sido a gota d’água que fez transbordar o cálice das divergências entre as expectativas pessoais e a realidade funcional.
Há quem diga que Maurício Valeixo desfrutava da total confiança de Moro. Mas também se diz que Bolsonaro não partilhava, com razão, desse sentimento. É evidente, óbvio mesmo, que para um cargo dessa importância, é requisito essencial que o escolhido seja, além de qualificado, merecedor da estrita confiança de seus superiores, especialmente do Presidente. Trocar o comando deveria ser algo normal, nessas circunstâncias. Só que disso Moro não quis arredar pé sinalizando que deixaria o cargo, caso Valeixo fosse exonerado, ainda que este estivesse cansado e insatisfeito. Muito estranha tal atitude.
Sem dúvida, a exoneração de Valeixo foi apenas uma espécie de “ponto de honra”, um pretexto, para Moro deixar o cargo e poder sair esfaqueando Bolsonaro que, em posterior pronunciamento, afirmou que o Moro havia condicionado a troca de Valeixo a um cargo de Ministro no STF. Chantagem, eu diria. E, talvez por ter sido um compromisso negado, já que anti-ético, tanto ressentimento.
Ainda assim, se Moro estivesse alinhado com o espírito de patriotismo que o mote de campanha de Bolsonaro revela, teria sido comedido em seu discurso de despedida que mais gerou dúvidas e ansiedade do que esclareceu razões. E isso, numa hora em que o país atravessa uma grave crise na saúde, com severos reflexos na economia, sem esquecer os conchavos golpistas dos opositores. Os reflexos serão terríveis, especialmente para o país.
O agora ex-ministro é um homem preparado e certamente não é ingênuo. Ele sabia perfeitamente os estragos que sua açodada fala iria causar na imagem do governo e na do Presidente. Sem dúvida ele sabe do prestígio que desfruta, assim como sabe do peso de suas insinuações e explícitas acusações. Foi o que bastou para que o PGR Aras pedisse ao STF investigações.
Enfim, caros leitores, Moro agiu com premeditação, sabendo exatamente quais seriam as graves consequências. Por lamentável que seja a saída de um dos nomes fortes do governo, mais lastimável ainda foi o ato de traição.