SACRIFÍCIO
Quintino Cunha
Do alto andar de um arranha-céu fraqueja
E rui um andaime que se despedaça
Todo infortúnio por maior que ele seja
Não será pior que essa desgraça
E vê-se então: Oh, santa maravilha!
Dois operários presos deste modo:
Ambos seguros por um cabo de manilha
Fraco, ameaçando rebentar-se todo.
Um pelo menos salvar-se-ia à vinda
De um socorro qualquer nesse transporte
Mas o heroísmo não esqueceu ainda
Quem com amor e coragem enfrenta a morte.
E assim nesse dilema derradeiro
Onde só um podia salvar-se extraordinário...
João – pergunta, resoluto o companheiro
- Qual de nós dois será mais necessário?
Eu tenho quatro filhos é o que João murmura.
- Oh, camarada, então eu te consolo!
E deixou-se cair da imensa altura
Na aspereza sepulcral do solo.