Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlos Eduardo Santos - Crònicas Cheias de Graça sexta, 01 de novembro de 2024

RUA DE CORNO (CRÔNICA DO COLUNISTA CARLOS EDUARDO SANTOS)

RUA DE CORNO

Carlos Eduardo Santos

Chevrolet 1947, semelhante àquele, que transportava dinheiro para o Banco do Brasil

 

Na segunda metade da década de 50 chegou do Rio de Janeiro o primeiro caminhão-baú, tamanho médio, com carroceria de alumínio, que se destinaria a outras tarefas, dentre ela transportar valores, entre as agências do Banco do Brasil em Pernambuco.

A Inspetoria Geral, sediada no Rio de Janeiro, estudava a melhoria dos precários serviços de transporte de valores, cujas empresas Preserve e Nordeste estavam ainda em organização.

O “baúzinho”, como ficou conhecido, substituiria os carros-de-aluguel, utilizados precariamente para esse fim.

Tudo era improvisado naquelas viagens; inclusive os responsáveis pelas remessas, funcionários que não tinham habilidades em portar e manejar armamentos, os quais deveriam portar na cinta os “dinossáuricos” revólveres “38 cano-curto”, para a segurança do dinheiro, nas perigosas missões.

Notabilizou-se por trabalhar durante mais de 10 anos nesse serviço, o motorista-proprietário, Napoleão Carneiro, que fazia ponto na Praça Rio Branco, utilizando um automóvel Chevrolet, mod. 1947.

O pequeno caminhão passou a fazer todas as viagens de numerário da região, incluindo João Pessoa e Maceió.

Selecionado para uma das muitas “Viagens de Numerário”, fui com o motorista Joaquim de Lima, conhecido como “Quinzinho”, e o colega, que era Pastor Evangélico, Severino Melo de Freitas, um homem de cor e fina educação.

Transportávamos no “Baú” vários 150 mil Cruzeiros, em cédulas, acondicionadas em 30 sacos de tela de juta. Quanta precariedade e riscos!… Carga muito pequena para um veículo tão grande.

 

O pequeno caminhão não possuía nenhuma identidade externa, exatamente para não chamar a atenção por onde transitasse.

Durante certa viagem “Quinzinho” começou a soltar umas conversas safadas, “castigando” Severino com pesadas piadas, dosadas de alta “pornofonia”.

No começo da viagem Severino adotaria a máxima protestante de que se deve pregar a palavra de Deus “em tempo e fora de tempo”.

Até Paudalho Severino ficou lendo a Biblia. Depois enveredou para nos doutrinar, dando-nos exemplos de correção . Uma chatice.

Em certo momento, perto de Bezerros, Severino-pastor arretou-se de tanto ouvir safadeza e disse que estava prestes a “fazer uma representação” contra Joaquim.

E veio com esta:

– Sinto-me incomodado por ouvir tantas histórias com palavras de tão baixo calão!

Já estávamos perto de Gravatá, metade da viagem de duas horas. Mas, antes de se calar, para não piorar o clima, “Quinzinho” ainda soltou esta, finalizando a cena:

– Ôxente, quem fica incomodado é mulher menstruada!

O silêncio dominou a cabine durante quase uma hora. Uma atmosfera fúnebre. Deu até sono. Mas, ao entrar em Caruaru, no oitão da Igreja-matriz, o motorista “aplicou a presepada”, que durante os momentos de silêncio, já vinha conjuminando.

Quase 10 horas, sol a pino, o caminhão parou na esquina e sem largar o volante, o safado motorista chamou um guarda que estava meio abestalhado, abrigando-se numa mangueira que havia na calçada, e perguntou:

– O senhor sabe onde fica a Rua Severino Melo de Freitas?

Era exatamente o nome completo do Pastor. Severino logo arregalou os olhos, surpreso, prevendo ser uma presepada de “Quinzinho”.

O guarda tirou o quepe, passou a mão no rosto, enxugando o suor que lhe escorria face abaixo e respondeu:

– Já ouvi falar no nome desse corno, mas não sei onde fica essa rua não, meu camarada!…

Fechou-se a cortina do episódio que entrou para o anedotário do Banco.


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