Chevrolet 1947, semelhante àquele, que transportava dinheiro para o Banco do Brasil
Na segunda metade da década de 50 chegou do Rio de Janeiro o primeiro caminhão-baú, tamanho médio, com carroceria de alumínio, que se destinaria a outras tarefas, dentre ela transportar valores, entre as agências do Banco do Brasil em Pernambuco.
A Inspetoria Geral, sediada no Rio de Janeiro, estudava a melhoria dos precários serviços de transporte de valores, cujas empresas Preserve e Nordeste estavam ainda em organização.
O “baúzinho”, como ficou conhecido, substituiria os carros-de-aluguel, utilizados precariamente para esse fim.
Tudo era improvisado naquelas viagens; inclusive os responsáveis pelas remessas, funcionários que não tinham habilidades em portar e manejar armamentos, os quais deveriam portar na cinta os “dinossáuricos” revólveres “38 cano-curto”, para a segurança do dinheiro, nas perigosas missões.
Notabilizou-se por trabalhar durante mais de 10 anos nesse serviço, o motorista-proprietário, Napoleão Carneiro, que fazia ponto na Praça Rio Branco, utilizando um automóvel Chevrolet, mod. 1947.
O pequeno caminhão passou a fazer todas as viagens de numerário da região, incluindo João Pessoa e Maceió.
Selecionado para uma das muitas “Viagens de Numerário”, fui com o motorista Joaquim de Lima, conhecido como “Quinzinho”, e o colega, que era Pastor Evangélico, Severino Melo de Freitas, um homem de cor e fina educação.
Transportávamos no “Baú” vários 150 mil Cruzeiros, em cédulas, acondicionadas em 30 sacos de tela de juta. Quanta precariedade e riscos!… Carga muito pequena para um veículo tão grande.
O pequeno caminhão não possuía nenhuma identidade externa, exatamente para não chamar a atenção por onde transitasse.
Durante certa viagem “Quinzinho” começou a soltar umas conversas safadas, “castigando” Severino com pesadas piadas, dosadas de alta “pornofonia”.
No começo da viagem Severino adotaria a máxima protestante de que se deve pregar a palavra de Deus “em tempo e fora de tempo”.
Até Paudalho Severino ficou lendo a Biblia. Depois enveredou para nos doutrinar, dando-nos exemplos de correção . Uma chatice.
Em certo momento, perto de Bezerros, Severino-pastor arretou-se de tanto ouvir safadeza e disse que estava prestes a “fazer uma representação” contra Joaquim.
E veio com esta:
– Sinto-me incomodado por ouvir tantas histórias com palavras de tão baixo calão!
Já estávamos perto de Gravatá, metade da viagem de duas horas. Mas, antes de se calar, para não piorar o clima, “Quinzinho” ainda soltou esta, finalizando a cena:
– Ôxente, quem fica incomodado é mulher menstruada!
O silêncio dominou a cabine durante quase uma hora. Uma atmosfera fúnebre. Deu até sono. Mas, ao entrar em Caruaru, no oitão da Igreja-matriz, o motorista “aplicou a presepada”, que durante os momentos de silêncio, já vinha conjuminando.
Quase 10 horas, sol a pino, o caminhão parou na esquina e sem largar o volante, o safado motorista chamou um guarda que estava meio abestalhado, abrigando-se numa mangueira que havia na calçada, e perguntou:
– O senhor sabe onde fica a Rua Severino Melo de Freitas?
Era exatamente o nome completo do Pastor. Severino logo arregalou os olhos, surpreso, prevendo ser uma presepada de “Quinzinho”.
O guarda tirou o quepe, passou a mão no rosto, enxugando o suor que lhe escorria face abaixo e respondeu:
– Já ouvi falar no nome desse corno, mas não sei onde fica essa rua não, meu camarada!…
Fechou-se a cortina do episódio que entrou para o anedotário do Banco.