ROUBO EM STONEHENGE – PARTE IV (COMO GOSTAVAM DE COMER LEITÕEZINHOS)
Compilação por Robson José Calixto
As comunidades que moravam nos arredores de Stonehenge, até um pouco mais longe, não eram chineses, mas como gostavam muito de comer leitõezinhos, porquinhos. Escavações realizadas no círculo sul descobriram acúmulos volumosos de ossos de animais, provenientes em particular do nordeste da Escócia. Escavações posteriores apresentaram resultados similares, mostrando uma mudança na preferência alimentar de carne de gado para carne de porco. Por outro lado, a proporção de ovelhas era baixa.
Nas pesquisas os seguintes elementos foram registrados como restos para ambos, porcos e gado, a saber: úmero, rádio, ulna, fêmur, tíbia, astrágalo e calcâneo. Além disso, para os porcos somente maxilas, mandíbulas, dentes soltos, atlas, escápula, pelve e metapodiais mediais foram registrados. (Umberto Albarella & Dale Serjeantson, 2002).
Os estudos têm considerado a abundância do porco uma característica genuína da economia neolítica tardia, possivelmente devido às condições ambientais alteradas. Mas porcos, tendo grandes ninhadas e crescimento rápido, seriam animais ideais para serem utilizados na produção de carne para festas; grandes quantidades poderiam ser produzidas, relativamente, com menor tempo do que o gado ou ovelha.
Os ossos metapodiais não se encaixavam no padrão dos estudos, sugerindo uma maior proporção de porcos abatidos antes do final do segundo ano. Existiria inconsistência entre a erupção dentária, dados de abrasão e os dados de fusão, com os dentes sugerindo idades mais jovens que os ossos. Os únicos elementos pós-cranianos a fornecer resultados semelhantes aos dentes eram os metatarsos e, possivelmente, os metacarpos. Em outras palavras, parece que alguns dos crânios e metapodiais dos animais mais velhos estariam faltando, que pode ser consistente com o que é sugerido pela distribuição das partes do corpo. Apesar das inconsistências, é provavelmente seguro sugerir que a maioria dos porcos de Durrington Walls foram abatidos quando eles estavam entre um e três anos de idade. Esta é a idade quando os animais crescem suficiente para produzir uma quantidade de carne substancial, mas ao mesmo tempo ainda são jovens o suficiente para produzir carne de boa qualidade.
As pesquisas realizadas indicaram a presença de fragmentos de pedra nos ossos dos porcos, como tivessem sidos atingidos por pontas de flechas. Contudo, é difícil imaginar por que as pessoas atirariam flechas em porcos domésticos. Uma possibilidade seria que os rebanhos bovinos e suínos (ou partes deles) fossem mantidos em um estado semiferoz e lanças ou flechas foram usadas para imobilizá-los para a matança. Explicação alternativa seria se eles fossem mantidos sob controle rigoroso, para abate como exercício de caça, embora exista pouca evidência de caça em relação àqueles que se reuniam em Durrington Walls. É até possível que houvesse caça ritualizada dentro do recinto.
A análise da parte do corpo, que levou em consideração danos naturais e culturais aos ossos, sugere que carcaças inteiras de porcos mais jovens foram cozidas e comidas na área investigada, enquanto crânios e pés dos animais um pouco mais velhos foram removidos em outro lugar. Gado e porcos foram abatidos, consumidos e descartados de maneiras diferentes. Variações no açougue, culinária e sobrevivência dos ossos de animais sugerem que diversas atividades ocorreram no local. Alguns dos ossos de porco foram abandonados ou descartados sem ser quebrado para atingir a medula óssea, algo também raro em outros ajuntamentos. Tal fato o abate relativamente leve e a queima confirmam que a carne de alguns dos porcos não foi utilizada intensivamente.
Pode-se imaginar grupos pessoas, seja um grupo restrito dentro da população ou toda a comunidade, reunida ao redor de fogos acesos dentro do recinto, enquanto porcos eram assados no espeto ou nas brasas. Quando a maior parte da carne houvesse sido consumida, alguns ainda estariam usando o calor e as chamas dos fogos acesos para ajudar na quebra de ossos abertos para extração de medula óssea.
Após as festas, grande quantidade de ossos que foram gerados, foram depositados em valas ou em outras partes da instalação. Depois de depositados, alguns dos ossos foram rapidamente cobertos e protegidos da destruição por cães, pisoteio e intemperismo que é o destino normal dos ossos nos primeiros assentamentos estabelecidos.
A própria escassez de roeção por cães, em contraste à sua abundância relativa na maioria dos ajuntamentos pré-históricos, sugere que os cães foram excluídos do local ou os ossos foram retidos e não distribuídos aos cães. Isso também tende a confirmar que alguma atividade especial diferente do consumo doméstico normal de alimentos ocorria em Durrington Walls. O descarte rápido de alguns ossos pode refletir apenas a preocupação em deixar a área livre de lixo. As festas devem ter sido realizadas apenas ocasionalmente; então, se algumas pessoas moravam no local o ano todo, os ossos podem ter sido removidos porque não era considerado apropriado viver entre os detritos orgânicos.
O fato de que nem todos os ossos foram prontamente enterrados, e que nem todos foram abatidos e cozidos da mesma forma, insinua que o lugar teve função doméstica e cerimonial, como fora sugerido. As carcaças completas de porcos jovens podem ter sido mais associadas a banquetes, enquanto carcaças abatidas dos porcos mais velhos e gado estavam associados a alimentos de consumo em menor escala em intervalos, mais regulares.
Fim da Parte IV
Esse texto foi escrito quase que completamente baseado em:
Brasília, 08 de dezembro de 2019