ROUBARAM O SABOR DE NOSSA INFÂNCIA
PAULO AZEVEDO
O tempo já é não tão soberano quanto antes. Dia desses, fui à feira, onde todas as frutas estavam presentes nas barracas, de framboesas a jacas, passando por morangos, até nectarinas.
Sempre soube que manga era uma fruta de final de ano; caqui em abril e maio; goiaba em setembro; morango nos meses mais frios. Frutas sazonais eram esperadas e significavam algo, férias, no caso das mangas.
Hoje, quase todas são enxertadas, insípidas, maiores que o tamanho natural – tem morango que parece maçã. Roubaram nossa alegria infantil pelas frutas.
Antigamente, quem morava no Sudeste não tinha acesso tão facilmente às frutas do Norte/Nordeste do nosso Brasil. Lembro da primeira em vez que tomei um sorvete de mangaba, no Recife, que delícia! Levei anos com esse sabor inesquecível na minha memória, até que um dia, recentemente, aqui no Rio de Janeiro, pedi o sorvete da mesma fruta, mas a diferença no contexto foi enorme, o sabor era outro, o cheiro da maresia pernambucana não estava presente, e meus sonhos infantis tinham ficado para trás. Doeu o coração.
Boa é banana, que dá durante o ano todo, mas até a banana estão fazendo no laboratório. Além de o tempo roubar nossa infância, ele agora permitiu aos homens que falsifiquem o sabor infantil de roubar uma goiaba na casa daquela vizinha chata.
Só nos restaram as lembranças da mangueira na casa da vó, que foi derrubada, e beber suco de caixinha.
N. E. - Paulo Azevedo é Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Esportiva e pós-graduado em Fisioterapia Neurofuncional, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, com formação em Filosofia à Maneira Clássica. É detentor de bela história de vida. Nascido em Brasília, em 1971, desde a infância se destacou como craque no futebol. No início de 1986, aos catorze anos, artilheiro no Distrito Federal em sua fixa etária, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, no intuito de firmar-se profissionalmente naquele esporte. Após frequentar as categorias de base do Fluminense, chegou ao time principal, fazendo um gol no jogo de estreia. A partir de então, no tricolor, ou emprestado a outas equipes, conheceu quase todo o Brasil. Um dia, ainda no vigor da carreira, teve um estalo: resolveu dedicar-se aos estudos, para garantir o futuro quando seu futebol entrasse em declínio. Foi uma dádiva de Deus! Hoje, com os títulos supracitados, é um dos Fisioterapeutas mais destacados no âmbito carioca e paquerado por vários artistas globais. Ganhou fama, mas não se deitou na cama! Abraçou, também, a Literatura e, em 2015, lançou o romance No Fio da Vida, com retumbante sucesso, culminando, por ora, neste ano de 2016, com a colocação em 3º Lugar em concurso internacional, recebendo o troféu na Academia Brasileira de Letras.
Capa e contracapa do romance
Certificado da premiação
Agora, descendo de tão honroso pódio, Paulo Azevedo vem abrilhantar as páginas deste Almanaque, como um de seus colunistas, motivo de muita alegria para todos nós.
Last, but not least – por último, mas não menos importante: Paulo Azevedo é sobrinho de sangue de minha mulher, e meu, por afinidade. Somos, por conseguinte, farinha do mesmo saco!
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