RIO - O isolamento dos que podem ficar em casa como medida contra a propagação do novo coronavírus, a população idosa — grupo de risco da Covid-19 — enfrenta dificuldades para agendar consultas médicas e pegar receitas de medicamentos controlados. A interrupção do uso de remédios pode agravar problemas de saúde.
A aposentada Maria Coeli, de 80 anos, trata de depressão crônica e não consegue falar com a médica para buscar receita:
— Esgotei todas as possibilidades de contato, não tenho o telefone pessoal da médica. Meu plano de saúde recomendou mudar de profissional, mas em meio à pandemia não tenho condições de procurar atendimento presencial —, diz.
O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Carlos André Uehara, afirma que o uso da tecnologia pelos médicos é o caminho mais eficaz para manter o atendimento durante a pandemia:
— Em tempos diferentes, precisamos repensar em soluções excepcionais. Isso inclui a relação médico e paciente. Uma alternativa é o teleatendimento, que assegura a saúde do profissional de saúde e do idoso — afirmou.
Com a receita em mãos, os idosos devem se preservar. Se possível, pedir para amigos ou parentes buscarem o medicamento nas farmácias ou optar pelos serviços de entrega. Caso seja impreterível a ida, optar por horários especiais e exclusivos que algumas grandes redes de drogarias estão oferecendo.
O Ministério da Saúde adotou, em caráter excepcional e temporário, medidas diferenciadas para a população ter acesso a medicamentos do Programa da Farmácia Popular. Os pacientes passaram a retirar o quantitativo suficiente para realizar o tratamento por até 90 dias, ficando dispensados de voltar à farmácia por até três meses.
EM CASA, MAS sem parar
Para manter a saúde em casa e que o tempo seja mais prazeroso, a dica é não se manter parado. Por enquanto, é bom evitar qualquer exercício ao ar livre, mas lembrar de se mexer dentro de casa é importante. Segundo o educador físico Diogo Fernandes, além de manter o fortalecimento físico, a prática de exercícios fortalece a imunidade e libera hormônios que aumentam a sensação de bem estar e ajudam no combate a ansiedade.
Nesse momento, é preciso também que as famílias se mobilizem e incluam o idoso nas atividades cotidianas.
— É difícil para qualquer pessoa passar por esse período, não só pela ansiedade, mas pela solidão e medo da própria doença. Mas é preciso reforçar: esta é uma situação temporária. — comenta a geriatra Patricia Ledo.
Ficar em casa tem sido um desafio par aos idosos mas, segundo especialistas, não se trata apenas de teimosia.
— Ao envelhecer, perdemos certa autonomia física, muitas coisas que conseguíamos fazer com facilidade passam a ser difíceis ou não recomendadas. Reafirmar a a vontade e o direito de ir e vir é uma forma de reforçar a autoridade sobre sua própria vida - afirma a terapeuta Vanessa Benaderet.
Mantenha a rotina e os horários. Nada de ficar de pijama o dia inteiro. Tente manter a rotina, trocando de roupa e fazendo as refeições e as atividades nas mesmas horas que costumava fazer.
Fortaleça o que já gosta. Se adora cozinhar, pense em novas receitas. Se gosta de jogos, como palavras cruzadas ou desafios, procure exercícios mais desafiadores. Para quem não deixa de ler, é tempo de começar uma nova obra. Se gosta de plantas, redobre os cuidados. Ou seja, reforce os hábitos que já te dão prazer.
Mas não deixe de experimentar. Começar novas atividades e se desafiar é bom para o cérebro em qualquer idade e tem benefício aumentado para pessoas acima de 60 anos. Sempre quis aprender a pintar, costurar ou tocar um instrumento? Tente. Na internet, há professores de todas as atividades ensinando novas habilidades. Não tem acesso á internet? Que tal reorganizar o álbum de fotografias?
Mas sem estresse. Ficou sem paciência? Não era exatamente o que achava que ia fazer? Não precisa continuar. Não há motivo para elevar o nível de estresse, e ninguém deve se sentir pressionado a fazer algo que não lhe dá prazer.
Não se isole. Bateu saudade da vizinha ou da família? Use o telefone ou, se já estiver acostumado, aplicativos de celular que fazem chamada em vídeo. O importante é manter o contato com os amigos. Procure formas de socializar mesmo na quarentena.
Não abandone os exercícios. A principal dica entre os especialistas é não abandonar os exercícios que já se faz habitualmente. Muitos educadores físicos enviam os treinos pela internet ou fazem aulas ao vivo. É fundamental para a saúde mental e física. Mas, por enquanto, dentro de casa.
Ainda não faz? Tá sobrando tempo no dia? Para os sedentários, é uma boa chance de começar a se mover e ocupar corpo e mente. Caminhar pela casa (ou no quintal, se tiver), levantar da cama e do sofá mais frequentemente e participar de algumas atividades da rotina podem fazer uma boa diferença, além de gastar aquelas horas extras no dia. Se quiser, estabeleça metas, como andar por cinco minutos a cada uma hora.
Pegue sol. Nem que sejam vinte minutos na varanda ou na janela de casa. O sol sintetiza vitamina D, ajudando no fortalecimento de ossos e músculos, além de diminuir a fadiga e elevar a sensação de bem-estar como um todo.
Use a tecnologia a seu favorAlém de receber exercícios pela internet, fazer videochamadas e poder ter aulas online, também é possível ver filmes, séries e jogos. Quer rever aquele clássico dos anos 1970? É bem provável que ele já esteja no catálogo de algum serviço que exibe programas, seja na própria televisão ou nos aplicativos.
Fuja das fake news. Antes de repassar ou acreditar em qualquer informação, procure saber se é verdade para evitar a ansiedade. Se for em relação ao corona e à sua saúde, consulte o médico antes de qualquer decisão. Não tome remédios, ou deixe de usar medicações de uso continuado, sem orientação médica.
Faça pré-triagemSentiu sintomas como febre ou tosse? Tem dúvida? Procure seu médico para saber se precisa mesmo sair de casa.
Cuidados redobrados. Sair de casa deve ser evitado, mas é recomendável tomar a vacina da gripe. Se for sair, redobre os cuidados com lavagem de mãos e fique até 1,5 metro de distância dos demais. O mesmo vale na hora de ir à farmácia ou fazer alguma compra no supermercado.
Melhor amigo do homem. O ideal, segundo os veterinários, é que os animais façam a quarentena e evitem sair de casa, já que não se sabe se o vírus pode sobreviver na pele ou no pelo. Se for inevitável, o passeio deve ser o mais curto possível, apenas para que o bichinho faça suas necessidades fisiológicas. Não deixe que toquem no seu animal. Lavar as mãos antes e depois de sair, evitar encostar em superfícies e manter distância de 1,5 metro de outras pessoas.
Cuidados dos cuidadores. Os cuidadores devem manter as recomendações de higienização das mãos e, quando estiverem fora da casa do idoso, devem praticar o isolamento social. Ao chegar no trabalho, manter os sapatos e a roupa da rua separados e tomar um banho. Se apresentar qualquer sintoma, não vá trabalhar.
É inevitável sair? Há diversas iniciativas de vizinhos que se oferecem para fazer compras e ir a farmácia para os idosos. Procure saber se alguém pode realizar essa atividade por você, inclusive algum membro da família. Se não der para delegar essas funções, redobre os cuidados. Uma dica dos especialistas é levar um papel, ou pano descartável, para não encostar, por exemplo, na maçaneta do elevador ou na hora de apertar o botão do andar. Passe álcool gel sempre que possível, lave as mãos antes e depois de sair de casa, mantenha a distância de 1,5 metro de outras pessoas. Se for ao supermercado, leve uma lista de compras para não desperdiçar tempo. Bancos têm oferecido a possibilidade de agendar um horário (já que estão trabalhando com expediente mais curto), procure marcar. Evite aglomerações.
PARA A FAMÍLIA
A situação vai passar. É importante reforçar que a situação vai passar em alguns meses, para controlar a ansiedade. Especialistas afirmam que pessoas acima de 60 anos, de fato, podem ficar mais confusas com mudanças bruscas na rotina. É bom, então, incentivar a manter um horário em que pretende fazer cada atividade do dia para não perder o rumo, até se habituar.
Para muitos, autonomia em risco. A sensação de perda da autonomia é maior para os idosos, que já sofrem com as limitações físicas naturais da idade. É importante reforçar ques estão no grupo de risco e, por isso, devem se manter em quarentena, mas sem pânico.