A jogadora de vôlei Rosamaria Montibeller está “zen”. Em excelente fase na SV League, no Japão, é a maior pontuadora da competição e tem vivido experiências transformadoras no país. Afirma que além do desafio de crescer principalmente na defesa, motivo pelo qual trocou a Itália, onde atuou nos últimos quatro anos, pelo Japão, cuja característica marcante de sua seleção é o excelente sistema defensivo, tem se contagiado com o jeito paciente e agregador dos japoneses.
— Estou mais paciente até comigo mesma e mais positiva nos momentos de dificuldade — admite a oposta, que exemplifica: — O respeito com o outro, a paciência e a disciplina, comuns no Japão, me pegaram muito. Tenho temperamento explosivo, sou ansiosa. E, muitas vezes, no calor do jogo, a gente se irrita com alguém, com a gente... E elas numa calma. É preciso ser positiva, pensar na próxima bola, dar as mãos entre a gente e sorrir uma para a outra. Elas me salvaram muito com esse jeito.
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A brasileira conhecia o Japão já que a seleção brasileira feminina viaja frequentemente ao país. Afirma, porém, que “viver o dia a dia é sempre curioso e de muito aprendizado”. Ela, que faz postagens de sua rotina no Instagram, diz que ainda se impressiona com a organização das filas, o respeito com o espaço do outro no metrô, quando os carros param na faixa de pedestres, mesmo quando alguém ainda se aproxima para atravessar a rua.
Rosamaria diz que é assim: quer se misturar aos locais, entender os costumes, saber como se comportar e respeitar as tradições. Ela até mudou a forma como cumprimenta as jogadoras quando é apresentada no início do jogo. Se curva e faz uma reverência a todos.
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Essa é a segunda temporada de Rosamaria no Denso Airybees, com sede em Nishio, na província de Aichtime, e cuja moscote é uma abelha alegre. Na temporada passada, foi campeã da Copa do Japão e quinta na SV League. Terminou como a segunda maior pontuadora (435 acertos).
Hoje, no meio da temporada 2024/2025, já tem mais pontos. Alcançou a marca de 442 e a liderança neste ranking. Ela explica que a temporada atual está mais longa, com mais jogos. O Denso, que chegou a ficar algumas rodadas na liderança, está em segundo.
Defesa de peixinho
Por causa da sua performance, Rosamaria foi escolhida pela organização para a disputa do Jogo das Estrelas, em janeiro. É a única estrangeira não-asiática desta lista que conta ainda com as tailandesas Moksri Chatchu-on (ponteira) e Nuekjang Thatdao (central).
O torneio teve boom de estrangeiros. São 54, com recorde de seis atletas do Brasil, dos Estados Unidos e da Tailândia. Ricardo Lucarelli e Alan Souza, que foram a Paris-2024, também estão por lá.
—A exigência é muito grande, sei da minha responsabilidade e essa indicação significa que tenho conseguido corresponder ao que esperam de mim. Na Itália tem jogos mais pegados, intensos. E aqui, mais longos. Acho que o Japão foi um boa escolha.
—E aqui não se treina tanta defesa assim. O que vejo de diferencial é o poder de reação. Elas são ágeis. Na parte física, treinam corrida, coordenação e agilidade — afirma Rosamaria. —Vê-las de perto tem sido fundamental. Elas caem muito rápido de tapetinho (tipo um peixinho). E eu tinha muita dificuldade com esse tipo de defesa, escorregar e conseguir pegar a bola lá longe, tocando na mão. Elas chegam no chão em dois segundos.
Rosamaria então passou a fazer treinos extras de defesa e, aos poucos, foi pegando o jeito. Considera que são pequenas mudanças mas de grande valia:
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—O que vim buscar acho que encontrei. Desenvolver minha parte defensiva e ao mesmo tempo encontrar novos golpes no ataque. Aqui não adianta ir na força, que é uma característica do vôlei brasileiro. Se não tiver variação de golpe, enxergar buracos na quadra, a bola não cai — comenta ela, já de olho no calendário da seleção brasileira.
É que em 2025 haverá a disputa do Mundial, entre 22 de agosto e 7 de setembro, na Tailândia. O Brasil, vice-campeão em 1994, 2006, 2010 e 2022, ainda não tem esse título. Na primeira fase, enfrentará a França, Grécia e Porto Rico.
—Ao menos minha namorada está aqui comigo — disse, a ver o lado positivo da situação. —Sobre a seleção, queremos buscar esse Mundial, essa medalha inédita. Batemos na trave no último mas estamos empolgadas. O que a gente pretende fazer é repetir todo o comprometimento que tivemos para Paris-2024. Estávamos prontas para o ouro lá. Não fomos dormir arrependidas de não termos feito algo. Fizemos tudo. Espero que o ciclo de Los Angeles-2028, que começa em 2025, seja o nosso momento.