Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo quarta, 02 de dezembro de 2020

ROSA PARKS, A MULHER NEGRA QUE, HÁ 65 ANOS, MUDOU A AMÉRICA AO NÃO CEDER SEU LUGAR NO ÔNIBUS

 

 

HÁ 65 ANOS

A mulher negra que preferiu ser presa a dar lugar no ônibus para homem branco e virou ícone

 

Rosa parks após ser presa por se recusar a ceder seu lugar em ônibus

  

Depois de trabalhar o dia todo numa loja de departamentos, Rosa Parks estava cansada quando embarcou num ônibus municipal na Avenida Cleveland, no centro de Montogomery, às 18h daquela quinta-feira, dia 1° de dezembro de 1955. Numa época em que o racismo era política pública de alguns estados americanos, os ônibus no Alabama reservavam assentos na frente para pessoas brancas, enquanto os negros, que eram 75% dos passageiros, só podiam se sentar em locais demarcados na parte de trás. Parks se acomodou na primeira fileira para "pessoas de cor". Mas, à medida que o veículo cumpria seu percurso, os lugares para brancos se esgotavam.

 Na terceira parada, em frente ao Teatro Empire, um grupo grande de pessoas desprovidas de melanina embarcou, e três deles ficaram de pé. O motorista, um sujeito chamado James F. Blake, ordenou então que Parks e outros três passageiros negros se levantassem da fileira para dar lugar a pessoas brancas.

 

Um policial grava as digitais de Rosa Parks, após prisão em Montgomery

 

Enquanto os três homens sentados perto dela cederam seus assentos, bastante contrariados, Parks disse: "Eu não deveria ter que me levantar". E não apenas continuou sentada como deslizou para a janela do ônibus. Em uma entrevista anos mais tarde, ela contou que "quando aquele motorista branco veio na nossa direção e gesticulou mandando a gente se levantar, eu senti uma determinação cobrir meu corpo como uma colcha numa noite de inverno". Ao perceber que a americana não se levantaria, Blake disse a ela que chamaria a polícia, ao que Parks respondeu: "Pode chamar". Os outros passageiros assistiam de olhos arregalados, sem fazer nada.

A americana de 42 anos, que já era uma ativista da luta por direitos civis dos negros nos EUA, só saiu daquele assento depois de receber ordem de prisão. "Por que vocês estão sempre nos intimidando?", perguntou ela ao policial, que respondeu: "Não sei, mas é a lei, e você está presa".

 

Registro não datado mostra Rosa Parks num ônibus em Montgomery

 

A atitude desencadeou uma mobilização que virou um marco na História. Parks, que era secretária no escritório local da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), foi presa por violação do código municipal de Montgomery e libertada após uma noite na cadeia, mediante fiança. Nos dias que se seguiram, os líderes do movimento negro local, entre eles o jovem pastor Martin Luther King, organizaram um boicote ao sistema de transporte. Parks não foi a primeira ativista presa por desafiar o racismo em ônibus, mas os militantes usaram o episódio para confrontar o estabilishment de uma vez por todas.

O boicote aos ônibus de Montgomery começou no dia 5 de dezembro de 1965. A partir daquela segunda-feira, cerca de 40 mil moradores negros da cidade pararam de usar os veículos públicos. Grupos organizavam lotadas em carros de passeio, com donos de automóveis transportando as pessoas de graça. Motoristas negros de táxi cobravam US$ 0,10 por viagem (o mesmo preço da passagem de ônibus). A certa altura, eles tiveram que driblar as autoridades determinaram multas para taxistas que cobravam menos de US$ 0,45 por viagem. Muita gente pedalava para o trabalho, caminhava ou até usava mulas e carroças.

 

Moradores de Montgomery andando em vez de pegar ônibus, durante boicote

 

Igrejas de comunidades negras ao redor do país organizaram campanhas entre seus fiéis com o objetivo de comprar sapatos para os moradores de Montgomery que gastavam todo seu solado com as longas caminhadas de ida e volta ao trabalho.

A perda de arrecadação com as passagens e o ódio por ver pessoas negras lutando por direitos motivou os opositores do boicote a reagir. A casa de Luther King foi incendiada, assim como quatro igrejas batistas. Após o ataque contra ele, o próprio líder ativista fez um discurso diante de 300 negros revoltados pedindo para que ninguém reagisse com agressividade aos atentados. "Nós precisamos confrontar violência com não-violência", disse ele, disse o ativista, que chegou a ficar duas semanas na cadeia por liderar os protestos. "Eu estava orgulhoso do meu crime", afirmou, anos mais tarde, após se tornar um ícone dos direitos humanos.

 

Rosa Parks num ônibus de Montgomery em 1995, 40 após se tornar ícone dos direitos civis

 

O boicote surtiu efeito. No dia 5 de junho de 1956, uma corte federal, ao julgar uma ação relacionada à segregação no sistema de transporte do Alabama, declarou que a reserva de assentos para brancos era inconstitucional. Como o estado recorreu da decisão, o caso foi parar na Suprema Corte dos EUA, que, no dia 13 de novembro daquele ano, ratificou a decisão anterior. O boicote se manteve até o dia 20 de dezembro de 1956, quando um decreto autorizou passageiros negros a utilizar qualquer assento nos ônibus de Montgomery. Aquela mobilização impulsionou o movimento pelos direitos humanos nos EUA e tornou Luther King um líder nacional.

"As pessoas sempre dizem que eu não saí do meu assento porque estava cansada, mas não é verdade. Eu não estava fisicamente cansada, ou não estava mais cansada do que estava normalmente, ao fim de um dia de trabalho. Eu não era velha, tinha 42 anos. Não, eu só estava cansada de ceder", descreveu Rosa Parks em sua biografia, "My Story" ("Minha história"), lançada em 1992.

 

 


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