- Cara, a que horas a gente vai comer? - disse um deles no último sábado, disfarçando a lágrima que caía ao som de "Burn", clássico do Deep Purple que encerrou o show do Whitesnake no Palco Sunset.
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- Como qualquer coisa importante que você faz pela primeira vez na vida, o Rock in Rio de 1985 é inesquecível para mim - lembrou o cantor do Iron Maiden, Bruce Dickinson, quando a noite desta sexta-feira foi anunciada. - Quatro de outubro! Já está guardado. Aquela noite em janeiro de 1985 foi como um tsunami sobre nós, estourou o Iron Maiden em toda a América do Sul literalmente da noite para o dia.
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Desde então - quando foi criado o termo "metaleiro", que alguns dos adeptos preferem trocar pelo gringo headbanger, ou "sacudidor de cabeça" -, o gênero está sempre representado no festival, por artistas como Metallica, Slipknot, System of a Down ou os protagonistas da maratona de hoje.
Às 15h, no Palco Sunset, o trio Nervosa faz sua estreia no festival. Formado em São Paulo em 2010, o grupo conta hoje com Fernanda Lira (baixo e voz), Prika Amaral (guitarra) e Luana Dametto (bateria). Hoje radicadas em Berlim, na Alemanha, as três há anos correm a Europa com seu thrash metal de músicas como "Horrodome", "Kill the silence" e "Death!", apimentadas pelos vocais guturais de Fernanda. Às 16h2m, ainda no Sunset, os grupos Torture Squad e Claustrofobia, ambos de São Paulo, se reúnem para um pagode de Belzebu e recebem o gigante Chuck Billy, cantor do Testament, veterana banda thrash de São Francisco, na Califórnia.
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Até aí, deu para respirar e tomar uma cerveja - que, segundo Roberto Medina, presidente do Rock in Rio, tem seu consumo multiplicado por dez nos dias do metal. Das 17h30m, quando o Sepultura começar sua apresentação, até por volta das 23h30m, haja pescoço, cabelo, coluna vertebral, joelho e outros órgãos vitais.
Acabou o Sepultura (possivelmente com "Roots, bloody roots"), são aqueles 800m com obstáculos de volta para o Sunset, onde começa o Anthrax às 18h30m. A banda formada em 1981 em Nova York compõe o Demoniacíssimo Quarteto do thrash, apelidado de Big Four, com Metallica, Slayer e Megadeth. Com o furioso Joey Belladonna à frente e Scott Ian, uma das maiores figuras do metal, na guitarra, o quinteto terá uma hora para mostrar standards como "Caught in a mosh", "Got the time" (cover de Joe Jackson) e "Indians", em que o cantor, que tem sangue iroquois, defende suas raízes. Essa, aliás, deve ser a última, sinal de que... partiu Palco Mundo, que tem Helloween .
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A banda alemã, que substituiu o Megadeth - cuja participação foi cancelada quando o cantor Dave Mustaine foi diagnosticado com câncer na garganta, em junho - traz ao Rio a turnê "Pumpkins united", em que, além da formação atual, convida seus ex-vocalistas Michael Kiske (titular nos discos "Keeper of the seven keys" partes 1 e 2, dos anos 1980, dois dos preferidos dos fãs) e Kai Hansen, cofundador da banda, para algumas canções.
- São três cantores e três guitarras - disse o titular de uma das três e também fundador da banda Michael Weikath ao GLOBO em junho. - Dá um certo trabalho, mas é muito divertido.
Representante do metal melódico (que em algum momento foi chamado de power metal), o Helloween também terá uma hora para mostrar seu som de temática influenciada por J. R. R. Tolkien. "I want out" ("Quero sair", apropriadamente) deve ser a última, e aí a casa cai de vez: às 20h30m o Slayer toca no Rio e no Brasil pela última vez. A banda formada em 1981 passa pelo Rock in Rio em sua turnê de despedida (os Scorpions estão nessa há uns 10 anos, mas o Slayer não tem vocação para Silvio Caldas do thrash), e serão 60 minutos de lágrimas ao som de "Raining blood", "Black magic", "Hell awaits" e outros quindins. O quarteto formado por Tom Araya (baixo e vocais), Kerry King e Gary Holt (guitarras) e Pau Bostaph (bateria) tem shows marcados até o fim de novembro, quando se despede dos palcos em dois shows no Forum de Los Angeles, sua cidade natal.
Quem sobreviver até "Angel of death" faz o trajeto mais uma vez até o Palco Mundo para a principal atração da noite, o Iron Maiden, que traz ao Rio às 21h30m a turnê "Legacy of the beast".
- O show está brilhante - diz Dickinson, que não é conhecido pela modéstia.
A maior produção da história do Maiden inclui um avião e cenários que remetem a discos como "The number of the beast" (1982), "Powerslave" (1984), "Fear of the dark" (1992) e "Brave new world" (2000), além do querido monstro-mascote Eddie, que pode aparecer em mais de uma encarnação. Esperto, o Iron Maiden pediu para se apresentar antes dos Scorpions, contrariando a ordem "natural".
- Acho que eles querem ir descansar mais cedo - brinca Medina.
A banda britânica sabe da maratona de shows prevista para o dia e resolveu não se apresentar para um público tão cansado. Quem resistir até um pouco depois da meia-noite verá os alemães Scorpions , outros remanescentes de 1985, voltarem ao festival com seu hard rock chicletudo, de músicas como "Blackout" e "Rock you like a hurricane", além das baladas "Still loving you", "Wind of change" e "Send me an angel". O Sindicato dos Metaleiros só carimbará a carteirinha de cada um de seus membros após a última canção, que deve ser... só que estiver lá saberá.