ROBERTO PAIVA
Raimundo Floriano
Roberto Paiva
Helim Silveira Neves, o Roberto Paiva, cantor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 8.2.1921, cidade onde veio a falecer, no dia 1.8.2014, aos 93 anos de idade.
Nascido e criado no Rio de Janeiro, embora de discreta atuação, sempre foi considerado um cantor correto. E, por isso, muito requisitado pelos compositores. A tal ponto, que registrou, em 1956, o histórico LP original da Peça Orfeu da Conceição, com músicas iniciais de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, no qual interpreta Um Nome de Mulher, Se Todos Fossem Iguais a Você, Mulher, Sempre Mulher, Eu e o Meu Amor, e Lamento no Morro.
Fez carreira, primeiramente como cantor romântico, mas também igualmente obteve sucesso interpretando sambas e marchinhas de carnaval. Começou a vida artística quando ainda era estudante do ginásio, no Colégio Pedro II, depois de vencer um Programa de Calouros da Rádio Clube Fluminense, de Niterói (RJ), onde interpretou a valsa A Você, de Francisco Alves, com a qual obteve o primeiro lugar.
Seis meses depois, no Rio de Janeiro, encontrando-se com Ciro Monteiro na Rádio Mayrink Veiga, conseguiu, através dele, uma colocação na emissora, passando a apresentar-se no Programa Picolino de Barbosa Júnior, às terças e quintas-feiras, recebendo cachê.
Na Mayrink, travou amizade com o pianista Nonô e com o violonista Laurindo de Almeida, que o levaram à gravadora Odeon, com a qual assinou contrato e, em 1938, lançou Último Samba, de Laurindo, e a valsa Jardim das Flores Raras, de Nonô e Francisco Matoso.
Para o Carnaval de 1940, gravou os sambas Estou Cansado de Procurar, de Rubens Soares e Luís Pimentel, e Se Você Sair Chorando, de Geraldo Pereira e Nélson Teixeira, estreia de Geraldo em disco como compositor. Na mesma época, transferiu-se para a Rádio Educadora.
Em 1941, gravou, na RCA Victor, seu primeiro grande sucesso carnavalesco, O Trem Atrasou, samba de Paquito, Artur Vilarinho e Estanislau Silva, que também representou o primeiro grande êxito do compositor Paquito. No mesmo ano, também pela Victor, gravou O Chapéu do Compadre, marchinha de Paquito e Francisco Santos, e, pela Odeon, o samba Lembra-se Daquela Zinha?, de Geraldo Pereira, Já Tenho Outra, samba de Geraldo Pereira e Ari Monteiro, e Devagar com a Louça, samba de Roberto Martins e Osvaldo Santiago.
Em 1943, pela Victor, lançou A Valsa dos Noivos, de Roberto Martins e Mário Rossi, e, em 1944, o samba Leva Meu Coração, de Roberto Martins e Mário Lago. Regravou, em 1948, pela Odeon, o samba-canção Pedro do Pedregulho, de Geraldo Pereira, e, pela Colúmbia, lançou Brigaram Pra Valer, samba de Geraldo Pereira e José Batista.
Em 1949, deixou a Rádio Educadora e passou a percorrer o Brasil, com apresentações em inúmeras cidades. Retornando ao Rio de Janeiro, foi para a Rádio Guanabara, e, em 1951, para a Tupi, gravando, em 1953, o grande sucesso carnavalesco Marcha do Conselho, de Paquito e Romeu Gentil, ao qual se seguiu o êxito Menino de Braçanã, toada que lançou Luiz Vieira como Compositor. Em 1954, gravou, pela Odeon, a toada Valei-me, Nossa Senhora, de Paquito e Romeu Gentil.
Lançou, duas vezes, uma pela Odeon, em 1953, e outra pela RCA, o LP Polêmica, que contém a célebre disputa musical entre Noel Rosa e Wilson Batista. A primeira gravação foi feita com Francisco Egídio, e a segunda, com Jorge Veiga.
Em 1959, gravou o bolero Tua, de Malgoni e Pallesi, versão de Lourival Faissal. Em 1962, gravou um único disco para a Mocambo, com os sambas Deixa de Sofrer, de Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Renato Araújo, e Deixa Ela Rolar, de Nelson Cavaquinho, Pedro Martins e Valter Silva.
Segundo a crítica, seu grande equívoco foi o de recusar-se a gravar o samba Falsa Baiana, maior sucesso da carreira de Geraldo Pereira, gravado em 1944, por Ciro Monteiro. Em A Canção no Tempo, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, há uma declaração do próprio cantor: "Era de madrugada, e o Geraldo, 'meio alto', cantou enrolando as palavras, dando a impressão de que o samba estava 'quebrado'. Um mês depois, ao ouvi-lo na voz de Ciro, descobri que aquela beleza toda era o samba que o Geraldo me oferecera".
Em 1987, foi convidado por Ricardo Cravo Albin para estrelar o Espetáculo O Cordão dos Puxa-sacos baseado na obra de Roberto Martins, show que ele chegou a ensaiar durante algumas semanas e que seria levado na Sala Sidney Miller da Funarte, mas não estreou, por conta de um súbito problema de saúde. No espetáculo, de que participavam o próprio compositor homenageado e a cantora Marília Barbosa, foi substituído, às pressas, pelo cantor Chamon.
No ano de 2000, foi lançado o CD A Música Brasileira Deste Século Por Seus Autores e Intérpretes, com um resumo de sua obra. Em 2001, apresentou-se em baile popular durante o Carnaval, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro.
Seus discos, 103 faixas remasterizadas de bolachões 78 RPM, bem como o LP lançado em sua homenagem pela Colloector’s em sua homenagem, na Série Ídolos do Rádio, são facilmente encontráveis nos sites especializados.
Vivendo no Bairro carioca da Tijuca com a mulher, continuou a fazer shows esporádicos, entre os quais o Baile Carnavalesco da Cinelândia.
Muito antes, em 1985, a FENABB – Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil lançou um projeto que ficará para sempre na memória dos amantes da MPB. Trata-se de Velhos Sambas, Velhos Bambas, Volume 1, com três elepês, e Volume 2, este em 1989, com dois. Além de resgatar alguns intérpretes tradicionais, trouxe-nos, com grande orquestra e arranjos modernos, a fina flor do que ainda restava da Velha Guarda de nosso cancioneiro sambista: Roberto Silva, Gilberto Milfont, Ademilde Fonseca, Violeta Cavalcanti, Zezé Gonzaga, Adoniran Barbosa, Adeilton Alves, Luiz Cláudio, Núbia Lafayette, e, como não poderia faltar, Roberto Paiva.
E é com a maioria dessa nova roupagem que escolhi cinco números para mostrar um pouco do talento e desse grande ídolo da Velha Guarda:
Quem Há de Dizer, samba-canção de Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves:
Favela, samba-canção de Roberto Martins e Waldemar Silva:
Não Quero Mais Amar a Ninguém, samba de Carlos Cachaça e Roberto Paiva:
Ó, Seu Oscar, samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista:
E, para terminar, O Trem Atrasou, samba de Paquito, Artur Vilarinho e Estanislau Silva, seu maior sucesso carnavalesco, gravação original:
"
"
"