Até ser lançado ontem nas plataformas digitais, o disco “Sambas e bossas”, de Roberta Sá, tinha um certo status de tesouro escondido. Isso porque o trabalho, gravado em 2004, não chegou a ser distribuído comercialmente, nem era considerado pela cantora como parte de sua discografia oficial. O álbum foi feito sob encomenda por uma multinacional que comemorava dez anos de atuação no Brasil, enquanto “Braseiro”, seu celebrado disco de estreia, estava no forno. Algumas das cópias distribuídas pela empresa acabaram foram parar nas redes e viralizaram.
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Agora, 17 anos depois, atendendo a pedidos, Roberta Sá resolveu desengavetar o “Sambas e bossas”, que ganhou também uma versão em vinil. Hoje, acompanhada do violão de Rafael dos Anjos, ela faz live de lançamento do novo-antigo trabalho, no Teatro Claro Rio, em Copacabana, com transmissão ao vivo e gratuita pelo YouTube (/teatroclarorio).
Entre as canções do repertório estão standards como “Alegria” (Cartola), “O sol nascerá” (Cartola e Elton Medeiros), “Falsa baiana” (Geraldo Pereira), “Chega de saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “A flor e o espinho” (Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Guilherme de Brito), além de outras músicas que estavam na cabeça de Roberta Sá, então com 23 anos.
— Escolhemos uns clássicos bem clássicos mesmo. Ao mesmo tempo, tem “Fica melhor assim” (Zé Renato e Xico Chaves), uma bossa menos conhecida, mais jovem, e “Essa moça tá diferente”, do Chico Buarque, que na época estava muito estourada com o Bossacucanova. Era o que eu ouvia quando ia para o Democráticos, na Lapa. Tocava muito — diz a cantora, que também vai apresentar uma música inédita no show de hoje, “Mudando de canal”, feita e parceria com João Cavalcanti.
Acolhida no Rio
Revelada no programa Fama, da TV Globo, Roberta Sá chegou a se formar em jornalismo antes de engrenar na música. Nascida em Natal, ela se mudou para o Rio de Janeiro com a mãe e o padrasto aos 9 anos. Na nova cidade, se encantou com a beleza do lugar, desaprendeu a andar de bicicleta — “acho que foi algum trauma mesmo, de me assustar com o movimento, porque eu andava muito de bicicleta em Natal” — e, anos mais tarde, foi frequentadora assídua de uma Lapa que passava por um renascimento cultural.
— Lembro da primeira vez que saí do Túnel Rebouças e olhei a Lagoa, nunca esqueço dessa cena. Pensei: “não to acreditando que vou morar aqui!”. Com 20 anos, descobri a Lapa, e era uma época que tínhamos Teresa Cristina no Semente, Nilze Carvalho no Carioca da Gema... Essa efervescência da Lapa eu vivi muito intensamente, fiquei na boemia por um tempo. Conheci Yamandu Costa, Zé Paulo Becker, foi um período muito bom.
Apesar de outro lançamento recente — “Giro”, seu sétimo álbum de estúdio, foi lançado em 2019 —, a cantora prepara, aos poucos, um novo disco de inéditas. Mas ainda não escolheu qual será o clima.
— O “Sambas e bossas” me dá um tempo para respirar, para pensar num próximo álbum de inéditas. Penso muito em que tipo de musica lançar neste cenário. Queria um disco festivo, mas não consigo sentir esse clima ainda. Existe a possibilidade de gravar algo mais introspectivo agora e esperar o momento festivo pra depois, porque no momento está difícil — diz a cantora, prometendo outra tarefa para o pós-pandemia. — Quero reaprender a andar de bicicleta.