Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quarta, 13 de novembro de 2019

RICHARD SANTOS, UM ANDARILHO DO MUNDO NO CAMINHO PELA IGUALDADE

 

Um andarilho do mundo no caminho pela igualdade
 
 
Richard Santos acumula experiências em diversas áreas das ciências humanas. Carioca e morador de Porto Seguro (BA), ele leva para o restante do país %u2014 e do planeta %u2014 os conhecimentos que adquiriu em sala de aula, na tevê e no movimento do hip hop, para promover transformações sociais

 

JÉSSICA EUFRÁSIO

Publicação: 13/11/2019 04:00

 

"Existe um projeto de poder hegemônico que impera no Brasil há 500 anos. Aqui e na América Latina, só teremos mudança quando desenvolvermos capacidades plurais, que reflitam a formação social dos povos"

 



“Estamos sós, ninguém quer ouvir a nossa voz / Cheia de razões, calibres em punho / Dificilmente um testemunho vai aparecer / E, pode crer, a verdade se omite / Pois quem garante o meu dia seguinte?” O trecho da música Pânico na Zona Sul, lançada em 1988 pelo grupo Racionais MC’s, ultrapassa barreiras temporais e marca a vida de Richard Santos. Carioca, doutor em ciências sociais, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), escritor, comunicador e ex-cantor de rap, ele guarda habilidades diversas adquiridas ao longo de 47 anos de vida. Contudo, mesmo bem-sucedida, a trajetória não o impediu de enxergar a realidade que a canção denuncia, cenário que só quem é negro conhece de verdade.

Com uma história que passa por diferentes cidades, Richard é desbravador, ou “andarilho de mundo”, como ele mesmo define. A vida do professor se desenrolou entre cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e, atualmente, constrói-se em Porto Seguro (BA). Em cada uma delas, ele acumulou mais elementos na bagagem intelectual que carrega Brasil e mundo afora. Entre essas idas e vindas, o professor encontra a equipe do Correio no saguão de um hotel do Setor Hoteleiro Sul.

Descontraído e entusiasmado, Richard fala sobre algumas das principais etapas que viveu, mesclando memórias e referências a teorias científicas. A trajetória de Big Richard — como também é chamado — reflete a transdisciplinaridade que ele próprio buscou ao começar os estudos da graduação. Mesmo com mais de 20 anos de trabalho na comunicação, o interesse acadêmico encontrou base nas ciências sociais. “Queria entender a sociedade em que estamos inseridos”, relata. A partir dali, o caminho se pavimentou por mais etapas de estudos até chegar ao pós-doutorado, que cursa atualmente na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

No fim dos anos 1980, teve início a trajetória musical de Richard — outra das facetas do professor —, quando ainda morava no Rio de Janeiro, em meio à efervescência do rap, do reggae e mesmo cenário em que o funk carioca nascia. Dali, surgiram grupos como Planet Hemp, O Rappa, Cidade Negra e nomes como o de Gabriel, O Pensador. No entanto, a inspiração para o gosto pela música estava na capital federal: Legião Urbana. O primeiro baixista da banda, Renato Rocha — morto em 2015 —, também era negro. “Houve uma identificação estética, mas eu não me via cantando em uma banda de garagem, até porque eu não tinha garagem nem instrumentos para fazer o rock.”

O interesse pelo rap surgiu da influência da tevê e de um primo que apresentou a Richard o disco Consciência Black, dos Racionais MC’s. A música Pânico na Zona Sul chamou atenção e o levou aos palcos. Mas, com o tempo, a desilusão provocada pelo modelo do mercado vigente, que não permitia que alguns grupos tivessem o mesmo espaço no rádio e na televisão, fez com que Big Richard desistisse da vida de cantor. “Não faço mais shows. Escrevo, produzo, mas não mais para atuar na indústria cultural. Por mais que o hip hop tenha esse discurso crítico, politizado, você tem de aderir aos signos dela”, destaca.

Experiências
As pesquisas na área da comunicação surgiram apenas durante o mestrado, na Universidade de Brasília (UnB). Servidor público da UFSB, o campo de atuação do professor universitário passa pela indústria cultural, a América Latina, o sistema de tevê pública, além de questões raciais. O livro mais recente dele fala da relação entre a branquitude e a televisão. “Sempre gostei muito de comunicação e de televisão. Sempre tive curiosidade de saber mais sobre esse veículo que cria nosso imaginário. E costumo dizer que as plataformas digitais são uma adaptação dela”, define.

Olhar crítico e experiências nesse meio não lhe faltaram, uma vez que trabalhou nos principais canais privados do país e em tevês públicas, tanto à frente quanto por trás das câmeras. Atuou como figurante na novela Roque Santeiro, foi assessor de imprensa, colaborador na MTV, apresentador de quadro no Fantástico, produtor na RecordTV — onde atuou em outra novela — e na TV Brasil — onde também fez reportagens. Passou, ainda, pela Bandeirantes e pela TV da Gente.

Richard analisa que a formação comunicacional no país é rodeada por problemas estruturais que favorecem uma visão eurocêntrica, tanto em relação aos saberes quanto a posturas estéticas. “Esse conjunto, formado pelo imaginário eurocêntrico colonizador transforma o não branco no outro, no estereótipo, no subalterno. Ainda hoje, você vislumbra esse poder branco pautando e agendando temas, reportagens, perspectivas, visões. Isso é muito claro — ou muito escuro — para a gente”, comenta. “E como formam-se esses núcleos de trabalho hegemonicamente brancos? A partir da concepção branca de que os melhores representam aquilo que você vê no espelho”, completa o professor.
 
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