A dois dias do Réveillon, os moradores do Distrito Federal já saíram em busca de itens nos supermercados para compor a ceia. O levantamento do Sindicato dos Supermercados do Distrito Federal (Sindsuper-DF) prevê uma alta de 5% a 7% no faturamento, se comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo a entidade, seja para a comemoração em família ou para a festa entre amigos, os consumidores devem aproveitar os resquícios do Natal e comprar novos itens para compor a mesa. A estimativa é que bebidas alcoólicas e carnes — de porco e peixe — tenham maior saída.
De acordo com Jair Prediger, presidente da Associação de Supermercados de Brasília (Asbra) e do Sindsuper-DF, o comportamento dos consumidores nas festas de virada de ano costuma mudar. Isso porque diferente do Natal, que costuma ser comemorado com a típica festa caseira e ceia farta, o Réveillon sobrevive às custas do que restou da celebração em família, e muitos brasilienses optam por festas entre amigos, regadas a bebidas. "O Natal é algo mais família, e sempre tem a ceia que já virou tradição. Então as pessoas se reúnem mais, vendemos mais frutas e carnes. No ano novo, a festa é mais despojada, com amigos, e vendemos mais bebidas e o que sobrou do Natal. Ao invés de aves, as pessoas compram peixes e porco, por exemplo", ressalta.
Apesar da busca por novos produtos impulsionar as vendas, Jair explica que o lucro não acompanha o aumento do faturamento. "O lucro não deve ter o mesmo crescimento, visto que os custos aumentaram muito nos supermercados e nem tudo foi repassado ao consumidor. Então as margens ficaram espremidas," pontua. Jair ressalta que o setor ainda está em processo de recuperação da pandemia. "Existe uma adaptação. Os próprios consumidores estão agindo diferente, ficando mais em casa, e isso ajuda nas vendas. Então, ainda que a margem seja pequena, há algum lucro", diz.
Gastos divididos
A economiária Marlice Regina de Montes, 43 anos, é uma das brasilienses que trocou a festa em família pela celebração na casa de amigos. Moradora do Setor Militar Urbano, ela conta que decidiu passar a virada do ano na casa de uma amiga e, para aliviar o bolso, a ceia será compartilhada. "Cada um ficou de levar um prato e sua bebida, e vamos dividir o valor da banda que irá tocar no dia da festa. Foi uma forma de não pesar para ninguém, temos feito isso há alguns anos e sempre dá certo. A mesa fica tão farta que acaba sobrando pro almoço do dia seguinte", diz.
Responsável pelo chester e farofa da ceia, Marlice diz que, ao fazer as compras dos itens para a receita, sentiu diferença no valor dos produtos importados. "As frutas cristalizadas, por exemplo, ficaram mais caras. Mas nada além do esperado. Acredito que a alta do dólar contribuiu para isso," acrescenta. A economiária também notou diferença no preço da ave.. "Houve um aumento, se comparado ao ano passado, mas era algo esperado. Depois do Natal, o preço diminuiu um pouco", completa.
No caso do advogado Luiz Felipe Feitosa, 39 anos, a comemoração vai manter as tradições do Natal em família. Para a data, decidiu aproveitar os dias de recesso para fazer a compra da nova ceia. Dessa vez, com uma diferença: menos alimentos e carnes de segunda linha. "As coisas estão caras, e como a gente já gastou no Natal, o bolso pesa né? Então aproveitamos o que não foi usado e optamos por alimentos mais em conta. É o caso da carne. Ao invés de comprar uma carne nobre, substituo por paleta ou músculo", diz. Cerca de oito pessoas devem comparecer na festa. "Neste ano, o Natal foi menos requintado, mais simples. E agora não deve ser diferente," completa.
Parcimônia
O professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB) e economista Cesar Bergo, explica que o consumidor precisa ter parcimônia e planejamento para que o Ano Novo não pese no bolso. De acordo com César, bebidas alcoólicas e alimentos como o bacalhau estão com preços elevados. "Principalmente os alimentos que dependem de importação. Essa é a hora de substituir por produtos mais em conta, como o frango," pondera. A dica do especialista é, neste momento, evitar gastos desnecessários, pensando sobretudo nas despesas futuras como pagamento de mensalidade escolar, plano de saúde, impostos. "Então é preciso manter o foco e não se apertar," completa.