RIO — Pela primeira vez em décadas, a Praia de Copacabana pode ficar sem réveillon. A realização da festa, que reuniu 3 milhões de pessoas na última edição, depende da evolução da Covid-19 no Rio, e, apesar de a prefeitura frisar que ainda é cedo para bater o martelo, alternativas já são estudadas. Entre elas, a transmissão dos shows pela internet (num modelo parecido com as lives que vêm fazendo sucesso nesta quarentena) e uma maior distribuição de palcos pela cidade, para diminuir a concentração de pessoas na orla.
Como O GLOBO informou neste domingo, dia 21, o carnaval em fevereiro também é incerto. Jorge Castanheira, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) deve convocar esta semana uma reunião para debater os rumos da folia e há, entre dirigentes de agremiações, quem defenda um adiamento dos desfiles para março, maio ou até mesmo para o feriado de Corpus Christi, em junho. Em nota, a Riotur informou que, seguindo o cronograma dos anos anteriores, o réveillon começará a ser discutido na segunda quinzena de julho. A expectativa é que, até lá, ocorra uma significativa redução de casos de Covid-19 e que o risco de uma segunda onda de contágio seja descartado.
Temor de segunda onda
Para Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do estado do Rio, a festa em Copacabana deve estar condicionada à descoberta de uma vacina ou de um medicamento eficaz contra a doença. Segundo a especialista, uma nova onda de contágio pode inviabilizar o réveillon na praia.
— Se tivermos uma segunda leva de contaminação até o fim do ano, o que é esperado, não haverá segurança para a realização de um evento tão grandioso. Vale lembrar que o fluxo de turistas para a festa costuma ser muito alto, principalmente dos que saem do Hemisfério Norte, que estará no inverno. Parece que o novo coronavírus tem um comportamento sazonal, assim como outras síndromes respiratórias. Talvez em outubro já possamos saber como a pandemia se comportou em outros países e aí, sim, conseguiremos determinar a viabilidade do réveillon.
O infectologista e professor da Universidade Iguaçu (Unig) Roberto Falci Garcia tem opinião semelhante:
— Antes de qualquer decisão, devemos aguardar possíveis impactos da flexibilização de medidas restritivas e saber como o Brasil e outros países reagirão a uma eventual segunda onda de contágio.
Preocupação com hotéis
De acordo com Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio de Janeiro (ABIH-RJ), um cancelamento da festa de virada de ano em Copacabana seria catastrófico para o setor, que chegou a ter 80% dos estabelecimentos fechados e cerca de 20 mil empregos suspensos nesta quarentena.
— Se o réveillon não acontecer, será um desastre para a rede hoteleira carioca. Hoje, nossa taxa média de ocupação está em torno de 15%, quando o índice normal seria 70%. Por conta da crise, muitos hotéis não vão reabrir. Os empresários do setor estão inseguros. O medo maior é retomar as atividades e, em dois ou três meses, ocorrer uma segunda onda de contaminação, o que poderia fazer grande parte deles quebrar de vez — afirmou Lopes.
Os hotéis da cidade foram incluídos na segunda fase de flexibilização da quarentena, já implantada pela prefeitura. No ano passado, a taxa média de ocupação na cidade bateu 93% no réveillon, contra 90% em 2018. Copacabana e Leme foram os bairros mais procurados, com 95% dos quartos reservados. Na noite da virada, hotéis de várias regiões apresentaram taxa de 100% de ocupação. A maior procedência foi de turistas nacionais: 81%, sendo o Estado de São Paulo responsável por quase um terço deste total (29,6%).
— Acreditamos que a força do turismo nacional, verificada no último ano, faça com que o carro seja o principal meio de transporte para grandes deslocamentos, por conta do medo que muitas pessoas ainda terão de embarcar num avião. Nós estamos com muitas expectativas em relação ao réveillon do Rio, apesar das adversidades. Esperamos que setembro seja o mês de retomada do nosso setor; é quando poderemos ter um panorama mais claro do fim do ano — disse o presidente da ABIH-RJ.