Tinha um resto de festa nos jardins do condomínio. Uma sobra de música ainda soava nos meus insones ouvidos. Lagartixas corriam para todos os lados comendo os farelos que sobraram e rãs, alegres e saltitantes, brincavam no friozinho de Gravatá, na grama orvalhada da madrugada do sábado. A noite que se foi deve ter sido muito alegre para aqueles que participaram da festa. O que comemoravam? O aniversário de alguém ou o anúncio do noivado da mocinha da casa 23, que alguns já davam como improvável depois de 9 anos de namoro? Só sei que pedaços de bolo e copos plásticos sujos de bebida se misturavam às plantas denunciando a festa que houve. Que bom que tenha havido algo a comemorar em tempos tão escassos de festejos e tão repletos de males, sanitários e políticos. Ao aniversariante, se é isso que se comemorava, só posso desejar muitos anos de vida pela frente. Ao casal de recém-noivos, se esta tiver sido a motivação da festa, que o casório não demore tanto tempo quanto o namoro demorou daqui até o casamento. A mim, desejo apenas que novamente não me convidem para a próxima festa e que, desta vez, os restos da festa sejam recolhidos antes que a madrugada seguinte chegue. Para minha alegria e tristeza das lagartixas. Quanto às rãs, elas continuarão alegres e saltitantes independente de ter havido aniversários ou noivados nos jardins repletos de orvalho. Um sapo bonachão repousa e cochila à borda da piscina, indiferente a tudo que ocorrera na noite anterior.
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