Há dias em que nos sentimos, como se a nossa alma fosse assaltada, pelos mais puros desejos de viver, e quase todas as lembranças vem à tona. Entretanto, o que passou jamais voltará. Se a vida é como um rio e as águas não voltam, cada dia é um novo dia.
“Rio caminho que anda, que vai resmungando, talvez uma dor…Ai, quanta pedra levaste, quanta pedra deixaste, sem vida e amor……..” – Eu e o Rio – Miltinho (Veja vídeo no final da postagem)
“Aguas passadas não movem moinho”, diz o dito popular. Entretanto, as recordações estão impregnadas, no âmago da nossa alma.
Passam anos e mais anos, e cada vez mais o universo dos nossos amores vai ficando menor. As perdas…Ah, as perdas!!! Como a nossa alma fica empobrecida, cada vez que perdemos um ente querido! À medida que os anos passam, a certeza da finitude da vida tolhe, a cada dia, a nossa alegria de viver e o ambiente feliz em que fomos criados cada vez mais se distancia de nós.
O Novo Ano de 2023 está prestes a raiar, e dele esperamos boas surpresas, mesmo sabendo que as surpresas perniciosas e indesejáveis, que advirão dos maus gestores, no âmbito da política, serão sempre mais fortes. Somente Deus punirá, pra valer, os carrascos da nossa sociedade.
Pesa nas nossas costas o pesado fardo dos asseclas de Nero, que usam a lei para oprimir e humilhar cidadãos de bem. A volúpia do poder, os sacos de dinheiro e uma caneta na mão são capazes de dilacerar a alma humana.
Os homens públicos, nossos algozes, nos tiram a tranquilidade, a paz de espírito e a calma que tanto pedimos a Deus. A força dos maus gestores predomina sobre o bem-estar da Nação.
O amanhã não quer ver ninguém bem. Por isso, o dia é hoje. E que Deus nos proteja da maldade humana ou da desumanidade dos homens, descendentes de Caim.
Evocando Fernando Pessoa.
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
Ai, que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado…
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…
Álvaro de Campos, 15-10-1929
Não consigo mais festejar o dia dos meus anos
O ano de 2022 está acabando. Cai a tarde tristonha e serena e caem os sonhos que, durante o ano, acalentamos. 2023 está se aproximando, sobrecarregado de medidas previamente tomadas pelo chamado Governo de Transição, numa exorbitância monetária, antes, nunca vista neste País. Abriram-se as portas de todas as prisões onde se encontravam presos os grandes ladrões.
Enterramos castelos ruídos e os amores sonhados se foram. A saudade pungente maltrata o nosso peito. É hora de perdoar e é hora de pedir perdão. Discurso de ódio deveria dar cadeia.
Violência gera violência. E a vida se acaba mais ligeiro.
Eu me pergunto:
– Ano Novo, que trazes pra mim? Já não posso conter o meu pranto…As lembranças estão no jardim, e a saudade sufoca o meu canto.
Quando a vida sorria pra mim, minha alegria transformou-se em dor, transformando em tristeza uma linda história de amor.
De repente, as lembranças afloram:
É Lia, é Francisco, é a luz! São os dias felizes da minha infância em minha querida Nova-Cruz, quando ninguém tinha morrido. E a saudade faz sangrar meu peito.
A barraca, a Banda de Música, a festa da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição…
A cidade toda em festa. O Parque São Luiz, as paqueras, o leilão; alfenim enchendo as cestinhas; a pescaria com suas prendas baratas, que, na minha saudade, ressurgem num lampejo de amor e carinho, como mimos de ouro e prata.
O Parque São Luiz fazia parte da festa de final de Ano em Nova-Cruz. A alegria das crianças e adultos, com a amplificadora do Parque a exibir as mais lindas e dolentes melodias, “de José para Dorinha, com o peito explodindo de amor.“ E soava a voz do amor nos corações.
A alegria da noite de Ano Novo inebriava a todos que se encontravam naquela festa popular, que se realizava na frente da Matriz da Imaculada Conceição.
O Hino Nacional, executado pela Banda de Música da Polícia Militar, anunciava a passagem do Ano, num momento de magia e emoção. Entre abraços, sorrisos e lágrimas, era chegado o Novo Ano, que todos desejavam que trouxesse a Paz sempre sonhada, Saúde e comida para o povo. E todos desejavam:
“FELIZ ANO NOVO!!!”
Era um tempo feliz, em que a maldade nem tinha nascido!!!
Bem diferente dos dias de hoje, em que muita gente se comunica através da secura das redes sociais, sem o abraço caloroso ao vivo e a cores.
Estamos vivendo a era dos robôs, quando a tecnologia superou o homem. E o texto frio da lei superou a carne e o sangue.
Um Feliz 2023 para os queridos Editores do JBF, Luiz Berto e Aline Berto, respectivamente, Papa e Papisa da ICAS (Igreja Católica Sertaneja), como também para os queridos colunistas e leitores do nosso querido Jornal!
Muita Saúde e Paz!