Certo dia, durante um banquete que reunia a alta cúpula da Marinha, a esposa de um Almirante amigo dele, Josino Alves, sentiu que um dos saltos dos seus sapatos havia se quebrado. O Almirante Alberto, no final, se ofereceu para levar o sapato da esposa do amigo ao sapateiro de sua confiança. Segundo ele, esse sapateiro era um exímio profissional e o sapato, com certeza, ficaria perfeito.
Três dias depois, o Almirante Josino Alves, marido da senhora, dona do sapato, faleceu de um mal súbito. Não deu tempo do Almirante Alberto devolver ao amigo o sapato consertado, da sua esposa.
Inconsolável com o precoce e súbito falecimento do marido, a viúva entrou num processo depressivo e, poucos dias depois, viajou para o exterior, onde moravam seus parentes.
Não teve condições de comunicar sua mudança aos amigos e viajou sem se despedir.
Dez anos depois, regressou ao Rio de Janeiro e entrou em contato com o Almirante Alberto, um dos maiores amigos do seu falecido marido, querendo fazer-lhe uma visita.
Acompanhada da filha e do genro, a viúva fez a visita ao Almirante Alberto, no seu apartamento, à Rua Santa Clara, em Copacabana.
Depois de superadas as emoções do reencontro, o Almirante entregou à mulher uma sacola com alguma coisa dentro: Era o sapato, devidamente consertado há mais de dez anos, conforme ele se prontificara a mandar fazer.
Mostrando-se surpresa com a memória do Almirante Alberto, ela agradeceu os préstimos, e se emocionou, relembrando que aquele fora o último banquete da Marinha, do qual ela e o saudoso marido participaram. Entretanto, jamais imaginou que o Almirante Alberto houvesse guardado seu sapato consertado, durante todo esse tempo.
Perguntado por alguém, por qual motivo guardara esse sapato por tanto tempo, tio Alberto respondeu:
-Cumpri meu dever como militar. Promessa é dívida. Prometi ao meu grande amigo, Almirante Josino Alves, que mandaria consertar o sapato de sua esposa e assim o fiz. Infelizmente, em face do súbito falecimento dele e da consequente mudança da viúva para o exterior, não tive oportunidade de devolver, em tempo hábil, o sapato consertado.
O Almirante Alberto contava essa história e dizia que só teve sossego, depois que entregou o sapato à sua dona, mesmo decorridos mais de dez anos.
Se ainda havia serventia ou não do sapato, somente a dona poderia decidir.
– Só Deus sabe como me preocupei com isso! – Dizia o Almirante Alberto Pimentel, quando relembrava esse fato.