RELEMBRANDO A TRAGÉDIA DO SARRIÁ/82
Paulo Azevedo
Não sou saudosista, mas toda vez que vejo algo relacionado a Seleção de 82, um nó vem na garganta. Acho que foi a última vez que torci realmente pela Seleção.
Aos dez anos, eu fiquei frio, ou melhor, anestesiado. Aos dez anos de idade, você tem todos os sonhos do mundo. Sonhava em ser jogador de futebol, jogar no Maracanã. Nas peladas, fingíamos ser Zicos, Sócrates, Juniores, Eders, Cerezos, Falcões.
Pais, tios e amigos vivos – alguns já se foram –, as primeiras paixões e beijos na boca. Era uma energia boa, o país tentando uma democracia, tempo de esperança.
Foram quinze gols, quinze gritos soltos na voz de um garoto de dez anos, com todos os seus sonhos. Como já tentei voltar o tempo, voltar para aquela tarde de cinco de julho de 1982, no Sarriá, e reescrever outro final!
A vida foi ingrata com o futebol, talvez por inveja, talvez pela incapacidade de fazer tantos meninos sonharem. Lembro de que quando as aulas voltaram na Quarta Série Fundamental, eu e meu grande amigo Flavio ficamos olhando um para a cara do outro, e ninguém falou nada, era nosso luto.
Ficou a cicatriz no coração do menino e o nó na garganta. Nunca mais torci como em 1982. A dor cristalizou e alguns sonhos se perderam no caminho. 1982 foi um ano diferente, meus ídolos se tornaram humanos, e a mim, um garoto de dez, quase onze anos, só restou chorar, abraçado na bandeira verde e amarela.
Parece que foi um sonho, valeu a pena sonhar, sempre vale a pena sonhar...