Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense segunda, 29 de janeiro de 2024

REFUGIADAS: MULHERES MIGRANTRES E REFUGIADAS RECONSTROEM A VIDA NO BRASIL

 

Mulheres migrantes e refugiadas reconstroem a vida no Brasil

Guerras, conflitos sociais e a fome são alguns dos motivos apontados pelas mulheres que deixaram seus países para buscar, em solo brasileiro, um novo lar

 

Mudar de vida. Conseguir um emprego. Fugir da miséria, da fome e da violência. Enfrentar a saudade, adaptar-se a uma nova cultura, aprender outro idioma. São muitas as razões e os desafios que fazem com que existam 710 mil pessoas com necessidade de proteção internacional acolhidas no Brasil. Os refugiados e migrantes representam a maior fatia dessa estatística que, agora, ganha protagonismo feminino. Os dados foram enviados ao Correio pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur).

 Os últimos seis anos no Brasil foram marcados por um “processo de feminização” dos deslocamentos internacionais impulsionado por venezuelanas e haitianas. A conclusão está no relatório OBMigra 10 anos: pesquisa, dados e contribuições para políticas públicas, de 2023. A pesquisa mostra que as solicitações de refúgio feitas por mulheres aumentaram de 10%, em 2013, para 45%, em 2022. E os pedidos de residência permanente no país, feitos por migrantes mulheres, também registraram acréscimo no período — de 34% para 43%.

 

Diferença entre migração e refúgio
Diferença entre migração e refúgio(foto: Valdo Virgo/C.B./D.A. Press)

 

Por trás das estatísticas, há pessoas que buscam melhores condições de vida ou mesmo fogem de confrontos políticos e sociais. São vidas que estão em reconstrução.

Durante um mês, o Correio acompanhou o cotidiano de mulheres refugiadas e migrantes em Brasília. Elas participaram do projeto Empoderando Refugiadas, que busca proporcionar autonomia financeira a essas mulheres, por meio da qualificação profissional, e ainda trabalhar a autoestima. A iniciativa é promovida também em Curitiba e em Boa Vista pela Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (Acnur), pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global da ONU no Brasil. Em Brasília, o programa é implementado pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR).

 

A sala de aula é um verdadeiro intercâmbio de culturas. Mulheres de países como Venezuela, Haiti, Cuba, Costa do Marfim e Paquistão estudavam técnicas de atendimento e vendas, e curso técnico oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Por diferentes caminhos, todas chegaram ao Brasil com o imperativo de recomeçar e encontrar oportunidades no país.

“Basicamente, (saí])pela ditadura que há no meu país. Está tudo mal. Não há comida, ou seja, nada. E tudo que tem é extremamente caro. Então, jamais vai poder ter algum empreendimento, nem trabalhar, nem nada. Ou você entra no governo e começa a trabalhar com eles, ou, sinceramente, você tem que ir embora”, desabafa a venezuelana Jennifer Navegas, 44 anos, sobre o motivo de ter deixado o seu país de origem, em 2016. Ela viveu na Argentina até o ano passado, quando foi atraída pela melhor estabilidade econômica das terras tupiniquins.

 

Aumento de mulheres refugiadas e migrantes

Inicialmente, as migrações e pedidos de refúgios no Brasil eram protagonizados por homens. De acordo com dados do relatório do OBMigra, em 2013, apenas 10,5% das solicitações de residência no Brasil eram de mulheres. Em 2022, esse percentual saltou para 40% — as venezuelanas superam essa média e chegam a 46%.

Uma série histórica de dados reunidos pelo observatório mostra que há um crescimento constante de mulheres migrantes e refugiadas no Brasil. Enquanto em 2011, apenas 20 mil mulheres realizavam deslocamento internacional, em 2022, o número chegou a 120 mil. Considerando o recorde, os últimos cinco anos foram os mais intensos, com um aumento de 200% — em 2017, eram menos de 40 mil mulheres em deslocamento internacional.

 

O crescimento da participação feminina nesse processo reflete também no mercado de trabalho. Em 2022, a OBMigra identificou que 15,6 mil migrantes e refugiadas ocupavam cargos de trabalho formal — esse foi o recorde de empregabilidade de mulheres no país até o momento. Os outros três anos em que esse valor foi significativo são 2019, com 6,9 mil; 2020, com 7,2 mil; e 2021, 7,4 mil.

A desigualdade entre homens e mulheres na esfera laboral também é uma realidade para migrantes e refugiadas.

Venezuelanas

Uma pesquisa divulgada em dezembro de 2022, pela ONU Mulheres, Acnur e UNFPA aponta que, enquanto apenas 2,4% dos homens venezuelanos que permanecem em Roraima possuem ensino superior completo, entre as mulheres este índice é de 10,2%. Mesmo assim, elas têm menos da metade das chances que os homens possuem de irem para outros estados do Brasil para trabalhar — no chamado processo de interiorização com Vaga de Emprego Sinalizada (VES), exclusiva para venezuelanos. O percentual de desemprego das mulheres venezuelanas é de 34%, enquanto o dos homens é de 28%.

Ainda segundo a pesquisa, 54% das mulheres venezuelanas permanecem nos abrigos de Roraima. A conclusão é que os homens saem para trabalhar em outros locais, enquanto as mulheres permanecem nas moradias para cuidar da família e da casa.

 

Empoderando Refugiadas

Para tentar mudar essa realidade, entidades da ONU desenvolveram o projeto Empoderando Refugiadas, que tem a intenção de inserir as mulheres migrantes e refugiadas no mercado de trabalho. A iniciativa aborda a autoestima feminina e oferece qualificação profissional técnica.

Criado em 2015, o projeto já era realizado em Boa Vista e Curitiba. Desde então, mais de 400 mulheres foram empregadas por meio da iniciativa.

“Claro que o nosso foco é a empregabilidade, mas o maior legado do projeto é o processo de autonomia dessa mulher, de ela entender que é capaz. Essa injeção de autoestima para mostrar que ela consegue, que ela que tem caminhos e que o Brasil é acolhedor”, explica a coordenadora do projeto, Yana Lima, que integra o Pacto Global da ONU no Brasil.

No ano passado, Brasília entrou na rota dos locais que oferecem cursos de qualificação profissional a migrantes e refugiadas. Na capital federal, a implementação da ideia é feita pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados. Ao todo, 26 mulheres e refugiadas se formaram na primeira turma. Neste especial, o Correio conta a história de quatro delas.

 


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