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Lúcia mostra trabalho datilografado na década de 1980 que deu origem a livro sobre reabilitação de crianças com paralisia cerebral
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Talento local reconhecido pelo trabalho desenvolvido na área da neurociência em Brasília e em outras cidades do país e do mundo, a presidente da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Lúcia Willadino Braga, receberá honraria inédita na América Latina. A pesquisadora será premiada com o Distinguished Career Award amanhã, durante o 89° Congresso da Sociedade Internacional de Neuropsicologia (INS, na sigla em inglês). O evento ocorre no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro, às 18h15.
Nascida em Porto Alegre, a gaúcha de 61 anos carrega mais de quatro décadas de dedicação a trabalhos na área da neurociência. Enquanto ainda cursava a graduação na Universidade de Brasília (UnB), na década de 1970, Lúcia desenvolveu pesquisas com crianças do Hospital Sarah Kubitschek, associando experiências musicais a tratamentos de reabilitação. Depois de concluir a faculdade, entrou para o quadro de funcionários da unidade de saúde e nunca mais saiu.
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Proposta de neurorreabilitação desenvolvida pela médica é um dos diferenciais da Rede Sarah
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A forte relação com as artes inspirou a médica a elaborar trabalhos de pesquisa que comprovaram diferentes teorias, como a importância do afeto para o desenvolvimento cognitivo e a reabilitação em casos de paralisia cerebral, principalmente em crianças. Esses estudos a levaram a fazer pós-graduações nas áreas da educação, da psicologia, além de um pós-doutorado em ciências da saúde, na França.
Da década de 1980 para cá, a pesquisadora se dedicou à produção acadêmica. Entre as colaborações de Lúcia com o meio acadêmico, há publicações de artigos em revistas científicas internacionais, como a Science, além da autoria e coautoria de livros e capítulos de obras. Em julho de 1999, Lúcia recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade de Reims Champagne-Ardenne, também na França.
O prêmio concedido pela INS entra para essa lista de homenagens conquistadas pela especialista. “Um cientista brasileiro ser reconhecido pela contribuição a uma ciência internacional é muito interessante. É algo bom para o Brasil e importante para a Rede Sarah, porque não trabalhamos sozinhos. Esse prêmio não deixa de ser um reconhecimento à minha pessoa e à minha equipe”, comenta Lúcia.
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Hoje, o hospital localizado no Lago Norte é referência na recuperação de lesões no cérebro
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Destaque
A pós-doutora orgulha-se de uma das principais propostas de reabilitação que desenvolveu e que inspirou trabalhos do mundo inteiro. Trata-se de um método de neurorreabilitação para pessoas com lesões no cérebro, por meio de estímulos promovidos nos ambientes em que vivem e fora dos consultórios. A pesquisadora conta que a ideia de permitir que as famílias acompanhassem os pacientes durante todas as fases do tratamento médico era uma opção considerada absurda no meio da saúde há alguns anos. Esse modelo é um dos diferenciais da Rede Sarah.
Sem insumos, como aparelhos de ressonância magnética ou ultrassonografia e com acesso apenas a ferramentas da área da psicologia, Lúcia se debruçou sobre pesquisas para comprovar, entre outras hipóteses, como a relação de afeto da família com o paciente é capaz de gerar melhores resultados para os tratamentos. “Hoje, podemos ver como o cérebro funciona, como responde a estímulos e como o usamos. Você planta sementes que o restante do mundo vai vendo”, diz a especialista, que recebeu convites para participar de conferências — presencial e virtualmente — em mais de 68 países.
A relevância do trabalho da gaúcha radicada em Brasília a levou a integrar o quadro editorial de periódicos científicos renomados. “De certo modo, fiquei mais reconhecida fora do Brasil do que aqui na área de pesquisa da neurociência. É muito importante investirmos mais em pesquisa, porque temos excelentes profissionais e excelentes cabeças no país. Quando têm a menor chance, os brasileiros se destacam cientificamente”, finaliza.
Para saber mais
Reconhecimento internacional
O Distinguished Career Award é concedido pela International Neuropsychological Society (INS) como forma de reconhecimento às contribuições de profissionais que atuaram na área da neuropsicologia e da neurociência durante diversos anos. Criada em 1967, nos Estados Unidos, a entidade oferece o prêmio desde 2008, em dois congressos anuais. A neuropsicologia, foco da atuação da sociedade internacional, trata-se da ciência que estuda as relações entre a mente e o cérebro, além das interações entre pensamento, comportamento e emoções com as estruturas e redes neurais do órgão.