RECORDANDO O VELHO MARACA
Paulo Azevedo
Renatinho e Paulo Azevedo
Foi em março de 1989, a primeira vez que pisei e joguei no Maracanã. Era o Campeonato Carioca de Juniores, o adversário foi o Vasco, de Carlos Germano e Bismarck.
Ganhamos de 2x. Nossos gols foram marcados por dois grandes amigos que o Futebol me presenteou, Renatinho, esse à esquerda na foto, e Moresche. Sinceramente, o resultado pouco importou. Naquela tarde, realizei o sonho de moleque, de tantos moleques, jogar no maior do mundo, o lendário e mágico, Estádio Mário Filho ou só Maracanã.
Não era só Maracanã, era O Maracanã, onde tantos craques brilharam, onde o surreal aconteceu, onde o Pelé fez o milésimo gol, onde Garrincha criou seus Joãos, onde Zico, Júnior, Leandro e Adílio criaram uma geração de torcedores, uma nação; onde Rivelino desafiou as leis da Física no elástico no Alcir; onde o Casal Vinte comemorava os gols como crianças, e onde o Roberto explodiu como Dinamite, depois daquele lençol antológico...
Eu estava ali, no lado direito onde Garrincha – meu maior ídolo no Futebol– e Leandro jogaram e perfumaram aquele pedaço de grama. Estava ali uniformizado com as cores sagradas tricolores, Camisa 7, que um dia Rivelino vestiu. Pouquíssimas vezes tive insônia ao longo da vida. No sábado anterior a esse jogo, não preguei o olho, meu pai, também, acredito que não. Qual o pai que nunca sonhou ver o filho jogar no Maracanã? Até porque, para chegar ali, não basta ser bom de bola. Em meu caso, havia um lastro, que começou aos oito anos de idade.
Foram quatro anos de Juniores. Aí, houve duelos com Djalminha, Paulo Nunes, Júnior Baiano, Nélio, Valdir Bigode, Edmundo, Djair, craques que voaram longe e outros ficaram por ali mesmo. Muitos passaram ali, muitos pisaram ali, alguns brilharam, outros só passaram, mas até esses que só passaram guardam o sonho de menino.
Voltei lá muitos anos depois, não mais atleta, pelada de amigos de final de ano, achei grande demais, frio e sem emoção, parecia estar adormecido. Por um momento fechei os olhos e lembrei de algumas arrancadas que dei nas preliminares do Juniores, nada de tristeza ou remorso, apenas lembrança.
Muito tempo depois, encontrei um senhor aqui perto de casa que, não sei como, lembrou de mim, perguntou se eu tinha jogado no Fluminense, desconversei, ele insistiu, desconversei novamente. Já indo embora, ele gritou: – Era você sim, tinha apelido de cavalo!
Sorrir e agradeci a vida por ter realizado esse sonho de criança!
Só fui ao novo Maracanã ver o show do Rolling Stones. Acabaram com a essência mágica do velho e lendário estádio. Talvez um dia, leve minha filha, quem sabe?