RECORDAÇÕES
Sousândrade
Astros gentis da bela mocidade,
Vésper meiga, crescente feiticeiro,
Que lembranças trazeis e que saudade
Dos tempos da concórdia e o verde oiteiro!
Vos adorei dos campos e à cheirosa
Brisa que das estrelas recendia,
Vos adorei à luz de santa-rosa
Quando aos nove anos Beatriz sorria:
Mas, para que volver às doces eras,
Do coração aos cândidos martírios,
Se onde eternal renascem primaveras
Não finda amor porque não findam lírios?
Depois, que importa essa ilusão fagueira
Dos mentirosos céus, quando o tormento,
Quando a dor d'alma, a sempre-verdadeira
Aí fica? – astros gentis do firmamento,
Que importa, se das flores que se amaram,
Que redolentes foram, novas flores
Cada dia o bom Deus manda aos amores,
Porque s'esqueçam tristes que murcharam!