Cine-teatro Parque. Antes, o teatro-jardim, um dos poucos do Brasil
Na década de 1940 o Recife vivia uma época de grande efervescência teatral. A Televisão ainda não havia chegado aos nossos lares e a arte cênica se mantinha como extraordinário atrativo para as famílias de fino trato. Era chic frequentar um teatro.
Das lembranças de minha juventude recordo que funcionavam no Recife o Teatro Apolo, fundado em 1842, Teatro Santa Isabel, em 1850. Em 1915 surgiu um dos únicos teatros-jardim existentes no Brasil, o Parque, na Rua do Hospício. Funcionava também o Teatro Helvética, mais popular de todos, situado na Rua Imperatriz Tereza Cristina, fundado em 1923.
Depois apareceram outros: o Teatro de Emergência Almare, em março de 1950, construído por arrojada iniciativa do então radialista Alcides Teixeira, a fim de fazer seus programas de auditório. Situado na entrada da Av. Dantas Barreto, que ainda não estava totalmente pronta mas ocupava toda a sua largura, na esquina da Praça do Diário.
Fabricado com madeira era uma coisa estranha, provisória. Depois, a título precário, foi legalizado pela Prefeitura, para a exibição de programas radiofônicos de auditório, artes cênicas e servia para convenções de partidos políticos.
Alcides Teixeira, construtor do Teatro de Emergência Almare
Alcides Teixeira, que se tornara radialista famoso, pelas dificuldades de apresentar seu “Programa das Vovozinhas” para um grande público, resolver construir um teatro-auditório, armando um monstrengo que durante bom tempo atingiu suas finalidades.
Deixaria seu nome na História, além de ter sido eleito deputado estadual sob o slogan de Deputado-vovozinhas, dado à destinação de seu programa de Rádio, dedicado à terceira-idade, uma das grandes audiências de todas as manhãs.
O prédio que anos antes abrigou o Cine Atlântico do Pina, seria mais tarde reformado para funcionar como casa de espetáculos, tomando o nome de Teatro Barreto Jr. Nos dias atuais dispomos dos teatros Guararapes, Teatro Rio Mar, Teatro Caixa Cultural, Teatro Boa Vista-Salesiano, Nosso Teatro (do TAP) e o Teatro Joaquim Cardoso da UF-PE.
Não se pode deixar de citar que em Brejo da Madre de Deus, agreste pernambucano, foi construído, durante vários anos, o Teatro Nova Jerusalém. O maior, ao ar-livre, do mundo, fundado por Plínio Pacheco.
Plínio Pacheco, idealizador do maior teatro ao ar-livre do mundo
Ainda comentando sobre a década de 1940, os anos se passaram e atividade cultural do Recife foi tomando impulso, com a projeção do grupo cênico: Teatro de Amadores de Pernambuco, fundado em 1941, por iniciativa de Valdemar de Oliveira que perenizou sua turma de artistas, grande parte formada por pessoas de sua família.
Valdemar de Oliveira: médico, jornalista, ator e teatrólogo
Mas era necessário ensinar arte teatral. Meu pai sabia que isso seria o caminho para a descoberta de novos talentos e a continuidade da arte cênica entre nós.
Um clube suburbano – o Atlético Clube de Amadores – construiu, em 1948, com recursos próprios, um prédio anexo à sua sede, que viria a ser o primeiro teatro-escola do Recife, iniciativa de Arthur Lins dos Santos – meu pai – quando Diretor Cultural do clube. O interessante é que nos intervalos de encenações o prédio funcionava como escola pública municipal.
Ali formou-se uma escola de teatro, com rapazes e moças da localidade, todos estreantes, grupo que encenou várias peças, dentre elas “Nada”, de Ernani Fornari e “As árvores”, de Aristóteles Soares. Está última foi encenada em várias cidades de Pernambuco.
Estava na programação do GTA uma outra peça, cujo texto estava quase pronto, de autoria do meu saudoso velho, porém, não chegou a ser concluído tendo em vista uma das grandes cheias que se abateram sobre o Recife, levando os originais pelo Capibaribe abaixo e em muito danificando também a sede do clube.
Recorte da revista “O Cruzeiro”, dos Diários Associados, em 1952
Em 1952 a revista O Cruzeiro, a mais famosa da época, publicou uma reportagem assinada por José Alberto Gueiros sobre a excursão do Teatro de Amadores de Pernambuco, ao Rio de Janeiro, da qual participei quando tinha apenas 15 anos.
Sobre a apresentação de suas quatro peças encenadas no Teatro Regina, falarei na próxima crônica, salientando que nessa época Pernambuco exportava Teatro.