Raimundo Floriano
Há quase seis anos, precisamente no dia 5.4.2010, publiquei aqui no Jornal da Besta Fubana matéria com o título A Fábula do Ovo e do Pré-Sal, onde contava as agruras de Dona Chiquinha Comboieiro, boleira balsense, não dando conta dos 500 cacetes encomendados pela PETROBRAS – só conseguiu 300 –, para um café da manhã em que se comemoraria naquele sertão o jorro do petróleo na torre que, há muito tempo, perfurava o solo na Fazenda Testa Branca, o que não veio a acontecer, acabando aquela estatal por cimentar o poço, relegando-o, definitivamente, ao olvido.
No dia 8 de agosto de 2014, a leitora Sebastiana Rodrigues de Sousa postou um comentário no jornal, assim se expressando: “Gostei dos contos, mas quero a receita do bolo cacete”.
Assim instigado, mostro o cacete, digo, o pau, depois de macerar a cobra, esta representada, evidentemente, pelo teste, aqui em casa, de todas as receitas, para não dar chabu.
Quando não houver menção específica, o resgate delas foi uma gentileza da amiga Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Cultural e Plenipotenciária balsense.
No tempo de minha infância, Balsas ainda não contava com a existência de padaria. A dona de casa, assim, tinha de usar de muita criatividade, todas as manhãs, para botar na mesa o quebra-jejum da família, as mais das vezes com beiju, cuscuz, frito de carne, farofa de ovo mexido ou os bolos cujas receitas aqui apresento.
Havia famosas boleiras balsenses, como Dona Dolores Lima e Madrinha Ritinha Pereira. Outras, como Dona Febrônia Tourinho, Dona Chiquinha, Dona Úrsula, Dona Biloca Botelho e Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, faziam-nos, não só para o consumo domiciliar, mas também para vender.
E era aí que eu entrava na dança. Toda boca-de-noite, eu saía de casa, carregando na cabeça uma gamela cheia de bolos diversos, oferecendo-os de porta em porta, ou apregoando-os em alta voz.
Não preciso nem dizer a saia-justa que isso me causava, quando batia à porta de casa onde havia meninas colegas minhas do Grupo Escolar, principalmente na de Seu Jonas Bonfim, pai da Maria Núbia, menina de 8 anos, pela qual eu era perdidamente apaixonado. E esse acanhamento ficou maior, depois que passei a estudar em Floriano, pois nas férias, minha mãe me entregava a gamela, sem levar em consideração meu novo status de ginasiano.
Mas deixemos de papo furado e passemos ao que nos interessa e me faz estar aqui a desperdiçar o precioso tempo dos leitores. Vamos às receitas, começando com o cacete!
CACETE BALSENSE
Cacetes assados na palha de bananeira
Foto de Elba Albuquerque
Cacetes assados direto na fôrma
Fotos de Elba Albuquerque
Ingredientes:
1 kg de tapioca ou polvilho doce
8 ovos
2 copos americanos (250 ml) de óleo ou azeite de coco
½ (meio) copo de leite
1 colher (de café) de erva doce
Sal a gosto
(No caso de usar a tapioca, peneirá-la)
Modo de preparo:
Pôr a tapioca (ou o polvilho doce) numa vasilha, juntar o óleo, o leite (sem ferver). a erva doce e o sal.
Em seguida, acrescentar os ovos aos poucos (gemas e claras), sem bater.
Sovar bastante a massa até ela ficar bem consistente e um pouco ligada.
Deixar a massa descansar por uma hora.
Depois de descansada a massa, colocar certa porção numa tábua, modelar de forma cilíndrica (com o diâmetro aproximada de um ovo) e cortar com uma faca em roletes de 10 a 15 centímetros.
Modelar as pontas dos roletes, de modo que fiquem de forma oval.
Envolver os roletes em folha de bananeira e pô-los no forno para assar.
Quando não se dispõe de folha de bananeira, assa-se o bolo diretamente na fôrma, sem untar. (No caso de usar folha de bananeira, quando esta estiver bem amarelada, tirá-las e deixar os bolos no forno até ficarem corados).