Penico velho de ágata – ou “urinó” para alguns matutos
Muito melhor que coçar frieira na beirada da rede, é cagar no mato. Cagar no mato quando se está com vontade de fazer isso, é uma coisa maravilhosa – melhor, ainda, se for trepado numa árvore, com porcos e galinhas incomodado. Vira cena hilária.
Limpar o fiofó com folha de marmeleiro, sabugo, palha de milho ou algo que tenha à mão. Essa é a chamada “barrigada” no dizer de quem quer jogar alguma coisa fora.
Por anos seguidos o “jogar barro fora” no interior era feito num buraco cavado no quintal, com apoio de paus e varas para o cagão se equilibrar; e coberto com palhas para os animais (galinhas, patos, catraios e porcos) não caírem na merda – o que obrigaria diariamente a alguém ter que descer para recuperar o animal ou deixa-lo morrer na bosta.
Mas esse era o cagador para pessoas jovens e até a meia idade. Idosos e crianças tinham sempre algo diferente à disposição. Era o penico. Penico de barro ou de ágata, colocado à disposição na camarinha.
Sempre que o dia amanhecia, alguém tinha a responsabilidade de “rebolar no mato o penico de mijo ou de bosta”. Aproveitava para lavar o dito cujo e colocá-lo na ponta de uma das varas da cerca. Perto de uma terrina com água, ficava também uma vassourinha, exclusivamente para ajudar na assepsia do penico.
Era hábito corrente em algumas casas do interior, cavar o buraco da bosta com até 6 metros de profundidade. Como se fora uma cacimba. Também era hábito, cobrir o buraco com paus, varas e palhas. A exposição ao sol e às chuvas por longo tempo, acabava por apodrecer os paus, as varas e as palhas.
Certo dia meu Avô resolveu tomar umas calibrinas e foi além da conta e do tempo. Era um domingo e o jumento Jombrega foi quem o trouxe para casa. O jumento voltou muito mais por que estava com fome, e claro, por que fazia aquele mesmo trajeto todos os dias.
Quando Vovô chegou em casa, nem teve tempo de tirar a cela, a cangalha e os cambitos do Jombrega. Foi direto para o buraco, jogar o barro fora. O pau de apoio estava podre e quebrou e Vovô caiu no buraco da bosta. Passou a noite ali. Na merda. Vovó não tinha como ajuda-lo a subir. Foi zoação por anos e anos.
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Casa do pau encarnado
Flamboyant – o pau encarnado
Com certeza muitos já ouviram falar em Jessier Quirino, Rogaciano Leite, Zé Limeira, Ariano Suassuna, Orlando Silveira, Dalinha Catunda e essa “cabraiada” famosa que “veve e alegra” o nosso sertão. E antes que alguém tente me corrigir, “veve” e não “vive”, é cuma se fala nesse sertão de meu Deus.
Patativa do Assaré ficou famoso, por que o Assaré é alto sertão cearense e fica bem pertim de Orós, lugarzinho fei, onde nasceu Raimundim Fagner, o cabra que se treme todim quando canta. Arre égua! Parece que quando canta adoece de “cesão”, uma doença que dá lá para as nossas bandas – o cabra se treme todim!
Pois, muito embora não tenha nascido no Ceará, quem também acabou ficando famoso, foi “Seu Lunga” – e ficou famoso só por causa das respostas atravessadas que dava para as perguntas idiotas.
Agora vosmecê pega uma máquina de somar (a geração de hoje não faz “conta de cabeça”) e junta Rogaciano, Jessier, Luiz Berto, Dalinha, Ariano, Zé Limeira e Fred Monteiro que não vai dar alguém do topete de Nhonhoca – a mulher mais grossa e mal educada que já apareceu nim riba dessa terra.
A bicha era grossa, siô. Mas era tão grossa que começava pelos beiços e se acabava no osso do calcanhar. Era grossa da cabeça inté os pés. Arre égua! Era mais grossa do que calçada de amolar faca.
Eis que certa noite Nhonhoca estava deitada numa espreguiçadeira colocada de frente para a porteira de casa, quando, “lá fora” alguém que passava, parou e perguntou:
– Ei, dona Nhonhoca, sabe me informar aonde mora Germanim de Dora?
– Sei! Ele mora lá na casa do pau encarnado!
OBS: “Casa do pau encarnado” nada mais era que uma casa na beirada da estrada, onde reinava florido um flamboyant – mas que servia de referência nas primavera