O título deste texto é o da canção de Martinho da Vila
Cada um fazendo o que gosta.
Eu gosto de conversar.
De ouvir pessoas.
De saber histórias.
Ontem conheci Seu Chagas. Sessenta e três anos. Cinquenta e quatro de mar. Primeiro como pescador de jangada e hoje, mais maduro, “fichado como Marinheiro de Convés. Tenho até carteira”, falou-me orgulhoso.
Semianalfabeto das letras, “mas sei ler o mar e o tempo do céu”. Na verdade eu o vi como um doutor do oceano, para onde começou a sair com o pai “ainda menino, quando troquei a bola nos pés na areia firme, pelas cordas nas mãos no balanço das águas”, foi me contando com seu lirismo puro de quem enxergou mais da vida nas tempestades enfrentadas, que muitos de nós na segurança dos nossos empregos e apartamentos.
“Escute bem: o mar é um professor e ‘de’ noite o céu ensina muito.”
Mãos calejadas, dedos deformados – um deles faltando a falange digital, revelou-me não possuir muito. Mas o bastante: “minha família. Criei meus filhos tirando o sustento no vai e vem das ondas, como meu avô criou meu pai e como meu pai me criou; e todos deram para gente. Nenhum quis viver do mar como eu”.
Fizemos uma amizade rápida. De apertos de mãos firmes. De sincera satisfação.
Um em falar. O outro em ouvir.
Possivelmente eu nunca mais o verei. Mas, doravante, levarei Seu Chagas comigo por uma de suas últimas frases.
“O mar não é para quem quer. É para quem é.”
Como tudo na vida, Seu Chagas.
Afinal, “quem é do mar não enjoa”.
Eu não enjoo de ouvir pessoas.
Este colunista e Seu Chagas, Fortaleza, dezembro de 2022