Acento tem tudo a ver com pronúncia. Agudo e circunflexo só caem sobre a sílaba tônica. Em dissílabos, trissílabos e polissílabos, descobrir a fortona é fácil como arrancar promessa de político. A porca torce o rabo com os monossílabos. Os pequeninos obedecem à mesma regra das oxítonas. Acentuam-se os terminados em a, ee o seguidos ou não de s. Compare: sofá (já), estás (dás), você (dê), vocês (dês), cipó (dó), vovós (cós).
Alguns dão nó em fumaça. É o caso do quê. As três letrinhas mudam de time como modelo troca de roupa. Ora são conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não oferece problema. O trio se apresenta sempre com a mesma cara. Veja: Disse que sairia mais cedo. Entre, que vem chuva braba.
As outras provocam dor de cabeça. Por duas razões. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Troca de lugar como nós trocamos de camisa. De outro, muda de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade. Ela faz as artes. Nós pagamos o pato. O preço é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
1.Quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral. Como todo nome, tem plural: Giselle tem um quê de sedutor. Qual o mistério dos quês? Este quê não me confunde mais. Corte os quês da redação. Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?
2.Quando o quê for a última palavra da frase —- a última mesmo, coladinha no ponto: Trabalhar pra quê? Riu, mas não disse por quê. Você se atrasou por quê? Ele se ofendeu com quê? Quero saber a razão do emprego desse quê.
É isso. Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à sua insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: o diabo não é tão feio quanto o pintam. O quê diz por quê.