Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo quinta, 09 de julho de 2020

QUARENTENA A BORDO: VELEJADORES CONTAM SUAS EXPERIÊNCIAS DURANTE A PANDEMIA

 

Quarentena a bordo: velejadores contam suas experiências durante a pandemia

De planos frustrados a novas descobertas fizeram parte da vida no mar em tempos de novo coronavírus
 
 
A velejadora Isabela Almeida no mastro do veleiro Amazônia, onde vive com o marido Sandro Masseli e as cadelas Vick e Chica Foto: Acervo pessoal
A velejadora Isabela Almeida no mastro do veleiro Amazônia, onde vive com o marido Sandro Masseli e as cadelas Vick e Chica
Foto: Acervo pessoal
 
 

RIO - Sarah e Renato planejavam partir para os atóis do arquipélago Tuamotu, na Polinésia Francesa. Sandro e Isabela pretendiam velejar pelo Mediterrâneo. Sérgio e Dôra finalmente se mudariam para o barco que levaram 11 anos construindo. Tudo isso aconteceria em março de 2020, caso a tempestade do novo coronavírus não mudasse os planos de um planeta inteiro. 

Atracados na Espanha

Sandro Masseli, Isabela Almeida e as cadelas Vick e Chica no veleiro Amazônia, em Burriana, na Espanha Foto: Acervo pessoal
Sandro Masseli, Isabela Almeida e as cadelas Vick e Chica no veleiro Amazônia, em Burriana, na Espanha
Foto: Acervo pessoal

— A incerteza sobre quanto tempo a quarentena duraria foi o que mais nos angustiou. Além de ficarmos presos no mesmo lugar, que é o oposto do que esperamos quando vivemos no mar — conta Sandro Masseli, capitão do veleiro Amazônia, onde vive com a mulher, Isabela Almeida, e as cadelas Vick e Chica.

O casal passou a quarentena dentro do barco, num clube náutico na cidade de Burriana, ao lado de Valencia, na Espanha, onde estavam desde agosto de 2019. Passado o inverno no Hemisfério Norte, a ideia era zarpar dali em março, no começo da primavera, e navegar pelo Mediterrâneo. Sem a pandemia, hoje estariam na Grécia, e no fim do ano, atracariam na costa turca. O horizonte, que parecia tão amplo, ficou restrito ao píer que ocupavam.

O lockdown severo, adotado na cidade, permitia apenas o funcionamento de mercados e farmácia e restringia ao máximo a circulação de pessoas pelas ruas. Do barco, os dois acompanhavam também os aplausos que tomavam conta do país, toda noite, às 20h, em homenagem aos profissionais de saúde.

— Burriana foi a mais afetada pela Covid-19 na região, então o clima era de muito medo. Só podíamos sair um de cada vez para as compras. Os nossos exercícios, tínhamos que fazer dentro do barco ou na frente do píer. Pelo menos podíamos passear com os cachorros, mas sem demorar muito — lembra Isabela, que chegou a ter que mostrar o comprovante de uma compra a um policial para justificar sua presença na rua.
Os velejadores Isabela Almeida e Sandro Masseli a bordo do barco Amazônia, na Espanha Foto: Acervo pessoal
Os velejadores Isabela Almeida e Sandro Masseli a bordo do barco Amazônia, na Espanha
Foto: Acervo pessoal

O Amazônia só voltou a velejar em 15 de junho, com o fim do confinamento no país. Sandro e Isabela estão agora nas Ilhas Baleares e pretendem seguir para a Sardenha, na Itália.

— A preocupação agora é saber se tudo voltará a fechar assim que passar o verão. Há sempre o risco de estarmos em um lugar não muito bom, ou termos que atracar na primeira marina que encontrarmos, e ficarmos novamente presos, sem saber quando poderemos viajar novamente — ressalta Isabela.

No fim do ano, se não forem atingidos por mais uma oda da pandemia, esperam cruzar o Atlântico em direção ao Caribe e, de lá, em 2021, rumo ao Pacífico Sul. O dia a dia do casal é registrado na conta do Instagram @viverporaremar.

Calmaria na Polinésia Francesa

Sarah Moreira, Renato Matiolli e Feijão posam em frente ao veleiro Sail Ipanema, que passou a quarentena em Moorea, na Polinésia Francesa Foto: Acervo pessoal
Sarah Moreira, Renato Matiolli e Feijão posam em frente ao veleiro Sail Ipanema, que passou a quarentena em Moorea, na Polinésia Francesa
Foto: Acervo pessoal

Se tudo der certo, Sandro e Isabela encontrarão na Polinésia Francesa o Sail Ipanema, veleiro tripulado há cinco anos por Sarah Moreira, Renato Matiolli e o bull terrier Feijão. Os três passaram a quarentena ancorados em frente a uma praia na ilha de Moorea.

 

Passar a quarentena num paraíso tropical parece uma má ideia para você? O casal de velejadores garante que foi uma experiência de altos e baixos. O fato de estarem parados numa enseada natural permitiu que continuassem aproveitando o mar, mergulhando, pescando e nadando em volta do barco. Os passeios com o cachorro na praia também não pararam. Mas então, qual é a “maré baixa" dessa história?

— O confinamento já faz parte da nossa rotina, já estamos acostumados com isso. Mas não por tanto tempo. Sentimos muita falta do contato com outras pessoas. Só íamos ao mercado a cada duas ou três semanas, não podíamos encontrar outros velejadores e nem receber hóspedes — diz Sarah.

A velejadora Sarah Moreira e o bull terrier Feijão em águas da Polinésia Francesa Foto: Acervo pessoal
A velejadora Sarah Moreira e o bull terrier Feijão em águas da Polinésia Francesa Foto: Acervo pessoal

Outro aspecto negativo do período foi o aumento da desconfiança por parte dos moradores das ilhas em relação aos estrangeiros, vistos como propagadores da doença no país.

— Até entendo a reação deles, diante da gravidade da situação e a preocupação, principalmente com os mais velhos. Mas é uma mudança significativa, já que o povo polinésio sempre foi marcado por ser muito receptivo, principalmente com os velejadores — relata Renato.

 

A calmaria da quarentena impediu o casal de passar a temporada de março a julho nos atóis de Tuamotu, uma viagem que já não vale a pena ser feita nos próximos meses, por motivos climáticos. Há cerca de um mês, a circulação pelas ilhas foi liberada. Desde então, a rotina vai voltando ao normal aos poucos, com algumas viagens por perto e encontros com outros velejadores que, assim como eles, estavam saudosos de contato humano. Agora, o plano é continuar nos arredores de Morea e Tahiti, a ilha principal do arquipélago, onde fica o aeroporto internacional.

Batismo com ciclone em Santa Catarina

Dôra Castanheira e Sérgio Danilas a bordo do veleiro Ictus, atracado na Marina Itajaí, em Santa Catarina Foto: Divulgação
Dôra Castanheira e Sérgio Danilas a bordo do veleiro Ictus, atracado na Marina Itajaí, em Santa Catarina
Foto: Divulgação

Sergio Danilas e Dôra Castanheira têm duas experiências de quarentena para contar. Uma, mais convencional, no apartamento do casal, em Curitiba. A outra, em Itajaí, bem mais emocionante, com direito a ciclone bomba, a bordo seu veleiro Ictus, que ainda nem navegou pela primeira vez.

Mas antes da ventania que tem atingido seriamente a Região Sul do país, o casal, como todo mundo, foi surpreendido pelo tsunami do novo coronavírus. A pandemia foi declarada poucos dias antes de o veleiro, que eles passaram 11 anos construindo, chegasse à Marina Itajaí. O barco efetivamente chegou ao litoral de Santa Catarina em 19 de março, no momento em que as medidas de isolamento social começavam a ser implementadas no estado.

 

— Quando ele chegou em Itajaí, já não se podia fazer nada. Na marina, nos informaram que ele não poderia ir para a água, e acabou passando um mês num pátio. Só no final de abril é que começamos a montagem efetiva do barco — conta Danilas, que se apaixonou pelas regatas há pouco mais de 20 anos e dedicou os últimos 11 à confecção do Ictus, que tem 40 pés (12,3 metros de comprimento), três quartos, dois banheiros, sala, cozinha e algumas peculiaridades, como um motor elétrico.

O veleiro Ictus, na Marina Itajaí Foto: Divulgação
O veleiro Ictus, na Marina Itajaí Foto: Divulgação

A mudança, de mala e cuia, só aconteceu em 9 de maio. E ali começou a segunda etapa do confinamento. Desde então, o casal se dedica a ajeitar a nova casa, respeitando as medidas de distanciamento social ainda em vigor na cidade. Na marina, por exemplo, só é permitido circular de máscara. Mas há tanto o que fazer dentro do barco que o tédio passa longe, segundo Dôra:

— Todo dia temos alguma coisa para arrumar, algum detalhe para acertar. Além disso, estamos curtindo o contato com a natureza e a ideia da liberdade que teremos assim que tudo isso passar. Antes ouvíamos o som dos caminhões passando na rodovia. Agora, é o barulho da água batendo no casco.

Quando voltaremos a navegar:os cruzeiros depois do novo coronavírus

O contato com a natureza se apresentou com força no começo deste mês, quando o ciclone bomba passou por Itajaí. Mas nada que tenha assustado muito o casal, que permaneceu dentro do barco, em segurança.

 

O histórico de atletas de alto rendimento dos dois tem ajudado a encarar o isolamento e a cumprir as rotinas a bordo com planejamento e disciplina, incluindo a série de exercícios físicos, dentro do barco. Ambos foram jogadores da seleção brasileira de vôlei. Danilas esteve nas Olimpíadas de 1976 (Montreal) e Dôra nas de 1980 (Moscou), 1988 (Seul) e 1996 (Atlanta) — nesta, como auxiliar de Bernardinho, então técnico da seleção feminina. Dôra também trabalhou no Comitê Organizador dos Jogos do Rio, de 2016, e inclusive emprestou sua voz para as gravações que indicavam as estações do metrô referentes à disputa de vôlei de praia. 

Sem pressa, os dois, que acabaram de se aposentar fazem planos para quando a pandemia acabar e estiverem liberados para velejar. Primeiro, pelo belo litoral catarinense. Depois, por outras partes do Brasil. E, um dia, quem sabe, se aventurar em águas internacionais. A urgência maior vem de fora, especialmente dos cinco netos de Danila, doidos para conhecer a casa-barco do avô.


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