Oito de fevereiro de 2020 é um dia importante para mim. Importante chega mesmo a ser uma palavra insuficiente para traduzir o meu sentimento em relação a essa data.
É que no dia 8/2/2020 completo 40 anos de vida profissional.
Sim, ainda criança, ajudei meus pais, em seu pequeno comércio, o que me garantiria mais uns três ou quatro anos nessa contagem. Mas eu mesmo nunca vi minhas tarefas de balconista como trabalho propriamente dito.
Então, a partir daquele dia, 8/2/1980, é que foi trabalho mesmo. Com carteira assinada e contribuição para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e para a Previdência Social.
Por essa razão, considero o início da minha vida profissional em 8/2/1980.
Naquela data, assumi o cargo de bancário aprendiz, no Banco do Nordeste do Brasil S/A. Uma sociedade de economia mista, que, como tal, tinha — e tem até hoje — o Governo Federal como seu acionista controlador.
Quatorze anos incompletos, era a minha idade. Para ser mais exato, treze anos e seis meses, o que gerou certa dúvida se eu poderia assumir o cargo. Decidiram que sim, e deixei a infância para me tornar bancário.
A família fez festa. Um tio mais bem informado que os outros decretou:
— Tá feito na vida! Bancário de banco federal é o melhor emprego do Brasil!
Ele tinha certa dose de razão. Meu salário seria mais ou menos o mesmo de meu pai (vejam que incrível, antes de fazer 14 anos, eu ganharia quase igual ao meu pai!). Depois de três anos, passaria ao cargo de escriturário, e o salário multiplicar-se-ia por quatro ou cinco vezes.
Um excelente emprego! Pelo menos até o final dos anos 1980.
Em 1990, com a posse de Fernando Collor na Presidência da República, cuja principal promessa de campanha era a “caça aos marajás”, já sabíamos que nosso futuro não era muito promissor. Afinal, éramos nós alguns dos principais “marajás” a serem caçados.
Além disso, a partir dos anos 1990, a profissão de bancário — mesmo de um banco federal — já não tinha o mesmo glamour. A automatização no setor, naquela época, foi massiva. A cada dia, as máquinas substituíam pessoas nas mais variadas tarefas. E com vantagem.
Talvez seja difícil para o leitor acreditar, mas, em 1983, quando passei a trabalhar na agência do Banco do Nordeste em Parnaíba, no Piauí, havia ali apenas dois microcomputadores. Éramos uns 40 funcionários, mas só dois ou três sabiam operar aquelas máquinas misteriosas (em pouco tempo, tornar-me-ia uma daquelas pessoas).
Dez anos depois, a informatização já havia chegado a todos os recantos da atividade bancária. Cada vez mais máquinas, cada vez menos pessoas. Cada vez menos motivos para manter o nível salarial.
Em 1993, os computadores invadiam o último bastião das atividades manuais da empresa: o Departamento Jurídico. Coincidência ou não, naquele ano, enquanto eu cursava os últimos semestres da faculdade de Direito, dava aulas de operação de microcomputadores para turmas de advogados do banco onde trabalhava.
Acabei deixando o banco em janeiro de 1998, quando já havia também me tornado um de seus advogados. Sendo bem preciso, não apenas advogado, mas chefe de uma das duas assessorias que compunham o departamento jurídico.
Quarenta anos! Passou tão rápido, e, no entanto, são inúmeros os momentos a lembrar!
Forçarei um final agora, para não alongar demais este texto. Mas talvez devesse contar toda a história de minha vida profissional algum dia. Talvez em um e-book…
Por ora, apenas registro que, de janeiro de 1998 a fevereiro de 2000, fui Procurador do Banco Central do Brasil; de fevereiro de 2000 a abril de 2001, fui Advogado da União; e, de abril de 2001 até hoje, sou Juiz Federal.
Quarenta anos, portanto, ao todo. Com a satisfação de nunca ter ficado um único dia desempregado. Houve, sim, períodos em que tive dois empregos, quando tive escritório de advocacia e quando lecionei na faculdade de Direito da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
Mas, períodos sem vínculo empregatício, nunca mais os tive. Desde o dia oito de fevereiro de 1980. Quarenta anos!