Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia
1
Invejando Luciano,
O Carneiro do cordel.
Peguei firme no pincel,
Também fui pondo no plano
Um rojão pernambucano
Do jeitinho que eu queria.
O verso simples surgia
E com ele eu me encantava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
2
Eu conto neste rojão
Uma história singular
De quem gosta de dançar
Mas em certa ocasião
Quase que caiu no chão
Servindo de zombaria,
Pois dançar bem não sabia
Aquele que me arrastava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
3
Quando grudei no sujeito
Ô sujeitinho atrevido!
Além de muito enxerido
Não rebolava direito.
Vi que não era perfeito
O jeito que se movia
Sua bunda remexia
E o passo não acertava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
4
Ouvindo um belo xaxado
O sujeito se animou
Olha que ele xaxou!
E no tal sapateado,
Mas parecia um viado,
Inventando estripulia,
Quase dei uma agonia
Pois enraivecida estava.
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
5
Quando tocaram um xote,
Eu fiquei bem animada
Dei logo uma requebrada
E fui dançar no pinote,
Mas fungar em meu cangote
Era o que o macho queria
Cansada da putaria
Nos pés dele eu pisava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
6
Resolveu dançar bolero,
E bolero eu sei dançar,
O rosto em mim quis colar
Porém eu disse: não quero!
Afastei, pois não tolero,
Esta falsa fantasia
Ele nem me conhecia
E pra chincha me chamava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
7
Assim foi a noite inteira
Nesse chamego sem graça
E quase acaba em desgraça
Pois não sou de brincadeira.
Ele caiu na besteira,
E tirar sarro queria,
Sua perna ele metia
Mas a minha eu tirava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
8
Ele tentou me beijar
Mas ficou na intenção.
Na cara meti-lhe a mão
Ele não quis retrucar.
Do tapa tentou escapar,
Mas fugir não conseguia,
Porque quando ele corria
Novamente eu atacava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
9
Assim foi a noite inteira
Nesta besta arrumação
Eu sempre dizendo não
E ele fazendo besteira,
Me cansei da brincadeira
Mas ele ainda queria
Tentei uma pontaria
Porém meu joelho errava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
10
Eu acerto este sujeito,
Ou não me chamo Dalinha!
Ele vai dançar na linha,
Vai ter que dançar direito,
Nele vou dar o meu jeito
Porém nada me ocorria
Sorrindo com ironia
O danado se esbaldava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
11
Atacado de loucura
O cabra apressou o passo
Eu fui perdendo o compasso
E também a compostura,
Eu já sentia tontura
E tudo rodando eu via
O meu vestido subia
Eu tonta já nem ligava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
12
Paquerando distraiu,
E escorregou de verdade
Pra minha felicidade
Foi só ele quem caiu
Gritei: puta que pariu!
Mas ele não reagia
O povo todo acudia
E ele em mim se escorava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
13
A noite não se acabava
Eu disse o pau vai comer
Homem pare de beber,
Mas ele não me escutava,
E dançando bagunçava
Surra ele mesmo pedia,
Mas enquanto o pau comia
Do recinto eu escapava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
14
Ele apanhou de montão
Mas não apanhou calado
Xingou muito o delegado,
Valeu-se do palavrão
Mesmo amarrado no chão
Mostrava sua valentia
Vingança ele prometia,
E eu com medo me afastava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
15
Este episódio que conto,
Nos moldes da cantoria
É canto só de Maria,
Que não implora desconto,
E vai aumentando um ponto
No canto da poesia
Tocar viola eu queria!
Mas a mão não me ajudava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.
16
Diante deste combate
Não vou dizer que ganhei,
Acho mesmo que dancei
Neste tal bate e rebate.
Mas se tratando de arte,
Eu não renego a magia
Vendo o rojão que explodia
Bem feliz eu me encantava
Quando eu ia ele voltava,
Quando eu voltava ele ia.