Diante das notícias sobre uns recentes exames vestibulares, onde analfabeto conseguiu aprovação em Ciências Sociais, um outro sendo classificado em Biologia e uma alma penada logrando ingresso em Pedagogia, duas sensações esquisitas perpassaram o meu interior de nordestino acima de tudo brasileiro. E que sonha ver o Brasil também vacinado contra as faculdades e cursos piranhas, que mercantilizam de forma abjeta a formação acadêmica de milhares de desprevenidos, sob as vistas complacentes de um Ministério da Educação preocupado apenas com os quantitativos exigidos pelos mercenários do ensino.
A primeira diz respeito às declarações de um certo mandatário, debochando da função docente, que mereceu uma resposta da professora Elizabeth Tunes da Universidade de Brasília, abaixo reproduzida com todo meu endosso:
“Um dia, acordei com a notícia de que os aposentados seriam vagabundos. Hoje, dizem os noticiários que ser professor é o destino dos incompetentes. Não sei qualificar o que sinto. É mais do que indignação e tristeza. Mas a reportagem não deixa dúvidas: a cabeça daquele mandatário é uma vitrine de inúmeros preconceitos.
Exatamente neste momento, entro para o Clube dos Chorões. Lamento e choro ao saber que ele esteve em Princeton, lugar que alberga os mais brilhantes, apesar de não se ver como brilhante. O que, então, fazia lá? Como ali foi parar? Era um enganador? Um oportunista? Lamento e choro ao ler que os velhos sabem muito e ‘quem sabe muito não cria, fica com medo de criar, porque fulano fez isso, beltrano fez aquilo, se eu disser isso vão dizer que é ridículo’. Por que não terá ocorrido a ele que essa forma de pensar e ser é exclusividade dele? Não será ele quem tem medo de criar? Não será ele, cuja mente é obnubilada pela vaidade, quem tem medo porque se propõe a servir a Deus e ao Diabo?
Desculpe-me, mandatário, mas quem se fez ridículo foi o senhor, com tamanha demonstração de sandices e de ignorância. Hoje, tenho muitas dúvidas de que o senhor tenha sido professor. O senhor demonstra não saber o que é ser cientista, o que é ser professor, o que é a universidade. O senhor passou pela universidade, onde apenas alimentou e engordou a sua vaidade.
Volte para a sala de aula, senhor mandatário. Não para ser professor, mas estudante. Venha conferir como nossos dignos Professores são competentes o bastante para destruir todos os seus preconceitos. O senhor é velho, mas não acredita na velhice. Nós somos jovens professores e acreditamos na velhice. Venha para nós. O senhor ainda tem salvação”.
A segunda sensação estranha quem me proporcionou foi o João Silvino da Conceição, que me mostrou uma carta a ele endereçada pelo filho de amigo seu de bilhar, recentemente aprovado numa faculdade particular. Ei-la, para meus leitores fubânicos, respeitadas ortografia e concordância do missivista:
“Pai: pacei no vestiburlar. Pençava que era mais difício, mas não foi o que eu tinha na cabessa. Tenho certesa que farei bunito. Depôs de dipromado, pretendo mi escrever num MBA, aquele negóssio que decha a gente tinindo pra arrumá emprego. Tenha certesa que um dia inda serei Ministro, ingual a este da Educação. Farei qui nem ele: deicharei todo mundo ingreçar nos curso de falcudade, benefissiando os mais estrumados. Já tô de olho na formatura, daqui uns anos. Penço que serar uma festansa bunita demás. Já tou pençando até no paranifo da gente: aquela Luciana da TV, que amassou uma grana do Maike Jeguer, aquele abestado que num usou camisinha e lascousse na penção. Ela é qui nem eu: sem muitos recuços cuturais mas com um peito arretado e uma cara de pal capais de paçar por cima dos obistaclos todos. A guarde notíssias. Um bejo na mia mãi e nos que miquerem bem. Istou filiz. Serei un brasilêro séclo 21, porreta mermo”.
Mandei pelo zap um abração arretado de ótimo para o Silvino da Conceição. E encareci a ele ser mais um militante ao lado dos que combatem todo e qualquer tipo de reeleição. Reeleição dá no que está dando, uma merda total.