Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo quarta, 28 de julho de 2021

PROJETO SOCIAIS LIGADOS À MODA TRANSFORMAM A VIDA DE DETENTS NO PAÍS

 

Conheça três projetos sociais ligados à moda que transformam a vida de detentos no país

A Ponto Firme, Pano Social e Doisélles buscam ressocializar sentenciados e egressos em penitenciárias ao redor do país, oferecendo aulas de crochê e integrando-os em suas cadeias de produção
 
Desfile da Ponto Firme na Penitenciária Adriano Marrey, em Guarulhos, São Paulo. Foto: Danilo Sorrino / Divulgação
Desfile da Ponto Firme na Penitenciária Adriano Marrey, em Guarulhos, São Paulo. Foto: Danilo Sorrino / Divulgação
 

Dentre os destaques da última edição da São Paulo Fashion Week, mês passado, a Ponto Firme chamou a atenção não só pelo uso delicado da arte milenar do crochê em looks construídos a partir de materiais descartados e itens de doação, mas também pela história por trás da marca. Trata-se de um projeto social que capacita e ressocializa sentenciados e egressos do sistema penitenciário por meio da moda, com mais de 150 colaboradores no portfólio.A Ponto Firme é apenas uma das inserções de moda no cárcere que vem transformando a vida de homens e mulheres no Brasil. O projeto PanoSocial e a marca mineira Doisélles também têm ajudado a costurar novas narrativas na vida de sentenciados e egressos do sistema penitenciário nos últimos tempos.

Idealizado pelo estilista Gustavo Silvestre, de 42 anos, a Ponto Firme nasceu em 2015. A ideia era escapar do ritmo acelerado da indústria da moda e redescobrir o crochê, técnica enraizada na família do designer. “Minha mãe, avós e tia faziam crochê. Cresci vendo isso, mas existia muito preconceito, e elas nunca me ensinaram”, lembra o estilista. Na sequência do surgimento do projeto, ele foi convidado para dar aulas na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, conhecida pelas oficinas de teatro e música.

 
Gustavo Silvestre, estilista criador do projeto Ponto Firme. Foto: Danilo Sorrino / Divulgação
Gustavo Silvestre, estilista criador do projeto Ponto Firme. Foto: Danilo Sorrino / Divulgação

 

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Apesar do ambiente masculino e machista, o estilista conta que os presidiários são receptivos e interessados em aprender. “A sala de aula é um respiro para eles. Da porta para dentro, são alunos”, analisa. No início, as aulas eram uma vez por semana e, além de certificado, os presos ganham remissão de pena a cada 12 horas trabalhadas.

Aula de crochê da Ponto Firme. Foto: Danilo Sorrino / Divulgação
Aula de crochê da Ponto Firme. Foto: Danilo Sorrino / Divulgação

 

 Com o tempo, a oficina passou a acontecer duas vezes por semana e o trabalho desenvolvido ganhou corpo e volume. A Ponto Firme integra, desde 2017, a grade de desfiles da São Paulo Fashion Week. As criações dos encarcerados também já foram expostas na SP-Arte, na Pinacoteca de São Paulo e em Nova York.

Desfile da Ponto Firme durante São Paulo Fashion Week, em 2018 Foto: Danilo Sorrino / Divulgação
Desfile da Ponto Firme durante São Paulo Fashion Week, em 2018 Foto: Danilo Sorrino / Divulgação

Em sua maioria, o perfil dos detentos se repete: jovens, negros e periféricos, de 18 a 29 anos, presos por crimes ligados ao tráfico de drogas ou roubos e furtos. “A prisão por si só é uma contradição. Ninguém aprende a nadar fora da piscina, assim como ninguém aprende a viver em sociedade fora dela”, opina Luis Carlos Valois, de 53 anos, juiz, mestre e doutor em Direito Penal e criminologia pela USP. “Mais do que ressocializar, projetos sociais oferecem dignidade.”

A trajetória da estilista Raquell Guimarães, de 40 anos, se entrelaça com o crochê e provoca mudança de vida de encarcerados. Fundadora da marca Doisélles, Raquell procurava uma alternativa para sua produção, antes realizada por mulheres aposentadas. “Percebi que o artesanato era um hobby e não um trabalho de oito horas por dia. Elas faziam durante a folga. Então, frequentemente, tinha problemas de padronização, além de perder prazos e entregas”, conta.

 
 
Raquell Guimarães, fundadora da Doisélles e do projeto Flor de Lótus. Foto: Maria Toscano / Divulgação
Raquell Guimarães, fundadora da Doisélles e do projeto Flor de Lótus. Foto: Maria Toscano / Divulgação

A busca por mão de obra especializada e comprometida somada a um episódio marcante no metrô de São Paulo — ela teve uma conversa emocionante com a a mãe de um detento do Complexo Penitenciário do Carandiru — deram origem ao projeto Flor de Lótus, em 2005. A inciativa de Raquell revolucionou o Pavilhão 1 da Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires, em Linhares (MG). Ela ensinou os detentos a tricotarem em troca de remissão de pena e salário. “A gente dá uma segunda chance a quem não teve nem a primeira”, avalia.

Projeto Flor de Lótus, criado pela estilista Raquell Guimaães em 2005. A inciativa de Raquell revolucionou o Pavilhão 1 da Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires, em Linhares (MG). Foto: Divulgação
Projeto Flor de Lótus, criado pela estilista Raquell Guimaães em 2005. A inciativa de Raquell revolucionou o Pavilhão 1 da Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires, em Linhares (MG). Foto: Divulgação

Além dos detentos, há também os egressos, que lutam dobrado para serem inseridos no mercado de trabalho. E a situação não está fácil para ninguém, no Brasil, a expectativa de desemprego deste ano é de 14,5%, segundo a agência de classificação de risco Austin Rating. “Recomeçar uma nova vida é muito difícil. Não se encontra alguém que dê oportunidade para quem errou”, atesta Claudinei Ribeiro, de 49 anos, egresso que, atualmente, ministra a cooperativa de costura do Instituto Recomeçar.

Em São Paulo, a PanoSocial, cofundada por Natacha Barros, de 44 anos, tenta mudar essa realidade empregando ex-detentos em sua rede de produção de roupas e acessórios. A PanoSocial também é engajada em causas ambientais. A marca propõe o uso de matérias-primas ecológicas, como o algodão 100% orgânico, e adere a processos produtivos sustentáveis.

 
Fundada por Natacha Barros e Gerfried Gaulhofer, tenta mudar a realidade empregando ex-detentos em sua rede de produção de roupas e acessórios. A marca também propõe o uso de matérias-primas ecológicas, como o algodão 100% orgânico, e adere a processos produtivos sustentáveis. Foto: Pablo Saborido / Reprodução/Instagram
Fundada por Natacha Barros e Gerfried Gaulhofer, tenta mudar a realidade empregando ex-detentos em sua rede de produção de roupas e acessórios. A marca também propõe o uso de matérias-primas ecológicas, como o algodão 100% orgânico, e adere a processos produtivos sustentáveis. Foto: Pablo Saborido / Reprodução/Instagram

Sobre a realidade desigual do Brasil, a estilista reflete: “Ninguém nasceu para matar, roubar e traficar. Mostrar isso para quem consome nossas camisetas é uma grande motivação. A costura é o veículo e a ferramenta de transformação social”.


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